O DRIBLE À CAMA
O drama começaria já da porta da
clínica à diante. Desde as manobras para entrar no carro, às atividades menos
comuns, o pouca prática sofreu. Em casa, após o test
drive, ele começou o treinamento como piloto de provas das novas
muletas Mercur que, pasmem, até prazo de validade de uso elas
têm. Inseguro como cachorro em canoa, o menino se equilibrava aos pinotes, com
a perna imobilizada suspensa, e nas freadas bruscas, a inércia de movimento o
lançava à frente para uma nova tomada de equilíbrio, mas caminhava.
No dia seguinte de manhã, à ida ao colégio, que
dista apenas dois quarteirões de casa, seria uma odisseia. Foi preciso fazer um
balão para deixá-lo à porta do
estabelecimento para a aula de inglês, almoçar na cantina, no térreo (descer as
escadas do mezanino, ajudado pela mãe a galgar...), e à tarde, tomaria o elevador
às aulas regulares no terceiro piso. Eu iria ao seu socorro, na hora do almoço,
com o propósito de ajudá-lo a conduzir a bandeja, ir ao banheiro à higiene
bucal...
Vinte para o meio-dia, eu lá de plantão e o menino
me surpreende montado às costas de um amiguinho da idade dele, mas ao contrário
do meu filho magricela, o outro garoto parecia um frango de granja alimentado a
fermento (no bom sentido), forte feito Hércules. Chamava-se Alexandre e o
tratei de Alexandre o Magnum. Arthur saltou de suas costas, já
fazendo malabarismos em uma perna só e rodopiando as muletas como bastões de
artes marciais. O Alexandre Magno, mandou-me embora, pois ele
custodiaria o seu amigo, no que fosse necessário. Dito isso, já havia ao seu
redor mais uns dez meninos e meninas confirmando a solidariedade e apreço ao
engessado.
Perdi a caminhada ao colégio, mas ganhei um ânimo
novo, confiante de que esta geração é e será mais humana; pelo menos cada uma
daquelas crianças deu sua demonstração de grandeza. E no caminho de volta, não
conseguia me desconectar da magnanimidade do Alexandre Magnum, da
pequenez de estatura dos infantes e a grandiosidade de suas alminhas que me
gratificaram a alma, ora absorta e exultante a me fazer sorrir à toa, pelas
calçadas entre transeuntes anônimos que me cumprimentavam, como os velhos amigos,
retribuindo meu sorriso velado. Acredito ter contagiado a muitos com a minha
alegria recebida dos garotos.
Que lindo conto e como é bom poder ver esperança n, confiança de algo melhor nessa nova geração! Legal! abraço,chica
ResponderExcluirObrigado, Chica! Que os seus céus nos abençoem. Abraço fraterno. Laerte.
ResponderExcluirQue linda mensagem trouxe com este conto em referencia à São Francisco de Assis. Esta ação/emoção me fez lembrar uma máxima de que um amigo nunca pesa.
ResponderExcluirEmocionante poeta construtor.
Abraços.
A esperança sempre depositamos nas crianças, talvez por isso São Francisco é o protetor dos animais, pois eles representam a inocência e a confiança perante ao adulto. Penso que é nosso dever auxiliar a criança ao que refere ao conhecimento para que ela aprenda "ler o mundo" como dizia P. Freire, mas de forma racional. Abraços!!!
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