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segunda-feira, 22 de abril de 2019

DUCENTÉSIMO SEXAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA CAPELINHA DE SÃO JOÃO BATISTA DE ARMAÇÃO DO ITAPOCORÓY


Obra de Rodrigo de Haro no livro Canoa, Ventos e Mares


Rendamos homenagens à Capela de São João Batista de Armação do Itapocoróy, pelo transcurso de mais um aniversário a somar-se aos seus duzentos e cinquenta e nove anos!


Foto: João Afonso Martins 2019

É impossível falar da Capela de São João Batista sem comentar as magníficas festas  de junho do padroeiro “São João e São Pedro” patrono dos pescadores. Também não é possível falar das festas sem lembrar da saudosa e extraordinária figura do senhor Milton Fonseca, o promotor incansável dos eventos, não media esforços para viajar às suas expensas e promover os preparativos às realizações das festividades. Era o tenente Fonseca expedicionário, com uma equipe de voluntários, quem levava esses acontecimentos aos píncaros da fama e glória, com repercussões na região inteira e no “além-mar de nossa praia”: Santos, SP, onde os filhos de Armação, intrépidos homens do mar, e excelentes marinheiros, representavam os mais famosos e melhores mestres de pesca do Brasil, na metade do século XX.
Também, falar da capelinha sem mencionar o seu Tiago da dona Doca violeira e cartomante, seria um desrespeito à história do meu tempo de infância. Seu Tiago chegava cedo à igreja para tocar os três sinais de sino, antes do ofício. Ao mesmo tempo, aparecia o seu Teodoro Mariano, quem comandava a ronqueira, um tipo de canhãozinho em ferro fundido municiado com um fio de estopim que entrava à retaguarda do obus, por orifício à câmara de explosão carregada de pólvora, pela boca. Sobre a pólvora, uma bucha de papel amassado se assentava complementada por barro, pedaços de tijolos,  cacos de telha, cerâmicas quebradas, que densamente comprimidos esses materiais, através de um tarugo de madeira martelado, davam fixação perfeita a obturar a câmara com  a pólvora comprimida e hermeticamente fechada. Quando aceso o estopim, o artilheiro afastava-se do local, deixando o petardo semienterrado onde o solo absorvia o coice da explosão ouvida à distância, a avisar os fiéis ser tempo de festa. Depois, com uma enxada, seu Teodoro cavava o terreno a procura da ronqueira que se enterrava completamente, para o próximo tiro.
Na Capela São João Batista, eu fui sacristão e aprendi com o senhor Milton Fonseca toda a linguagem, ao ritual litúrgico, em latim, idioma em que eram celebradas as missas e outros santos ofícios.  Por falta de coroinha, seu Milton era quem ajudava os celebrantes nas missas, antes de mim.


  A SECULAR CAPELINHA DE SÃO JOÃO BATISTA
DE ARMAÇÃO DO ITAPOCORÓY

Alva, ao alvor das construções caiadas,
Cor creme claro em suas aberturas,
Ela é a sublime imagem de canduras
Das virginais e doces alvoradas.
A Santa Cruz do tempo das Cruzadas
Continha aos braços símbolos da dor
De Jesus Cristo, Deus Nosso Senhor,
E frase escrita: “Salve tua alma”.
 A vertical da haste qual uma palma
Mirava o alto e dava ao céu louvor.

O nauta que a vê do mar,
Sente a água ir a declive
Beijar outeiro em aclive
Onde há um patamar
Com a capela a contemplar
Magnífica enseada
Sempre com frota ancorada,
De médias embarcações
Que bailam em saudações
A ela, ao alto situada.

E a capela olha a baía
Qual Praça do Vaticano
A cercar o oceano
Em logradouro, à homilia;
Da Barra Velha à Vigia
Faz do mar redonda praça,
Mas seu olhar a ultrapassa,  
E altivo o pousa na Penha,
Para a qual, orando, empenha
As suas bênçãos e graça.

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Imagem de uma ronqueira


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