Na obra Os Argonautas ou A Argonáutica, do último clássico grego Apolônio de Rodes, Açores figura há duzentos e quinze anos, antes de Cristo, como o último reino de um matriarcado existente em uma das ilhas.
No século XIII, cartógrafos entre genoveses e maiorquinos, já tinham em cartas geográficas aquelas ilhas do arquipélago açoriano. No ano de 1440, os portugueses começaram a povoá-las com diversas etnias, o que resultou num povo mesclado e de grande valentia – exímios marinheiros, intrépidos nautas e excelentes pescadores. Povo esse que colonizou o litoral de Santa Catarina.
Em complemento ao texto da postagem Faces hachuradas da colonização ou povoamento açoriano no mundo meridional, em homenagem ao 270º aniversário da presença açoriana no estado catarinense, deixo um poema narrativo com um pouco mais da sua história.
AÇORIANOS NO SUL DO BRASIL
Açores foi “descoberto”
Muitíssimos anos antes
Do Brasil, por navegantes
Que viram uma Ilha e perto,
Mais algumas. Por certo,
Fez-se um descobrimento.
Seguindo ao povoamento
Dom Henrique pretendia
Pôr habitantes com porfia.
E para tanto, um fomento.
Mandou enormes rebanhos
De gado à Santa Maria,
Pois a carne supriria
Quaisquer percalços estranhos
Aos seus projetos tamanhos
De mais uma possessão,
Já que as ilhas eram e são
Viáveis para pastagens.
Depois se deram as viagens
De uma enorme ocupação.
A ânsia por habitantes
Às ilhas fez Portugal
Abrir portas, em geral.
Gente de todos quadrantes
Acorreram pouco antes
Do grande “descobrimento”,
Quando se deu o evento
Da demanda ao Brasil
Desse povo de perfil
Versátil ao novo intento.
Às ilhas, o contingente
Migratório foi de heróis
Idos de diversos sóis,
De oriente ao ocidente
Ou de trópico diferente.
Povos treinados à luta
Renhida, para a permuta
Da terra pelo oceano,
Em que o gênero humano
Tem que ser o mais arguto.
E foram lobos do mar
Forjados nos vãos das vagas,
Nas profundezas das plagas
Onde se pode forjar,
Na pressão do milibar,
O perfil pétreo em penedo
Desse homem qual rochedo
Trazido do fundo abismo
Para provar o heroísmo
Destituído do medo.
Por isso, o açoriano
É de uma têmpera valente.
Marujos ao mar temente
Enfrentam em soberano
Respeito ao oceano
Que aprenderam a vencer
E deram linhagem a um ser
Também soberano e forte.
Vindo do Atlântico Norte,
Mais um novo contingente
Que às ilhas fez-se presente
Em grandes naus de transporte.
Traziam como bandeira
Um açor em voo pleno,
Na alma. Predador sereno
Dessa flâmula altaneira
Da legião estrangeira
De uma gente afeita à luta.
Porém, sem haver disputa
O anímico açor se irmana
Com uma nova massa humana
Na paz mais absoluta.
Integrado assim à gente
Indígena e negra, ele fez
A diferença, talvez
Com o saber experiente
Para a produção corrente
Na obtenção da farinha
De mandioca, que tinha
Semelhança a do trigo
No modus faciendi antigo
Conforme lá se obtinha.
O produtor açoriano
Deu uma base à imigração
Do árabe, do alemão,
Do judeu e do italiano.
E com esforço sobre-humano
O litorâneo aguerrido
Viabilizou um sentido
Para o desenvolvimento
Do sul do Brasil, com o tento
Da noção de um povo unido.
Assim, por essa razão,
Sendo o colonizador
Incentivou o labor
Na industrialização
Metalúrgica, do alemão,
Como têxtil e as demais,
Sendo os verdadeiros pais
Da indústria, nessa linha;
Tal ao engenho de farinha
Português, nos arraiais.
Também a estabilidade
Econômica e financeira
Da indústria brasileira
Foi apoiada, em verdade,
Na antiga sociedade
Entre o índio e o açoriano,
Pondo fábricas no plano
Do factível que fazia
E se manufaturaria
Da roça ao meio urbano.
A nós, na literatura,
Açores deu vários filhos
Preclaros de raros brilhos.
Machado de Assis, figura
Como a grande criatura
Que a cultura simboliza.
Cecília Meireles, poetisa
Da maior envergadura
Com uma obra que perdura
E madura se eterniza.
Sem falar em Rui Barbosa
O grande “Águia de Haia”,
Um defensor de atalaia
Contra a “Força Poderosa”,
Ao direito que se esposa
Como a “Força do Direito”.
E há outro, grande sujeito:
Senhor Érico Veríssimo,
De livro preciosíssimo
“O Arquipélago”, feito.
Nascido na nossa ilha,
Conforme memória ilustra,
Marcelino Antônio Dutra
Era o “Poeta Maravilha”,
Sangue de Açores que brilha
Na história, qual deputado
Que soube dar o recado
Em mil oitocentos e cinquenta
Em oposição se sustenta
No verso bem-humorado.
Desterro, entre outras ilhas
Dos Açores, é também
Açoriana, pois tem
Semelhança às outras filhas
Portuguesas, e há milhas
Longe, no oceano à frente.
Desterro é no continente,
Mas parecida às demais
Por culturas ancestrais
Da história de sua gente.
Enciúma-se Faial,
Mas sua irmã, a das Flores,
Disse ser rusga de amores
Já que Desterro é igual
As outras, e Portugal
As têm por filhas irmãs.
A do Corvo diz ser vãs
Essas lamúrias sem-fim,
Porque Desterro é assim
Como as demais são – cristãs.
A Ilha de São Miguel
E São Jorge batem palmas
Por suas singelas almas
Sem pretensões, no papel
De ser leal e fiel
A Portugal. E a Terceira
Faz-se a grande companheira
À Desterro de onde veio
Muitos casais que no seio
Da Ilha ficam bandeira.
Ilhas de Santa Maria,
A do Pico e a Graciosa
Acharam uma primorosa
Conquista, que merecia
Maior atenção, por via
De poder viabilizar
Projeto no além-mar,
Precisando de mais gente
Para, consequentemente,
Dar mais vida ao lugar.
Duzentos e tantos anos
Passaram-se e a história,
A tradição e a memória
Dos povos açorianos
Valorosos, soberanos,
Enaltecemos, então:
Salve a miscigenação!
Salve essa gente guerreira!
Salve a nação brasileira!
Salve a colonização!