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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

"VELHO VENTO VAGABUNDO"

Praia de Itaguaçu - Florianópolis


    O humor do ilhéu "vareia" com o vento "suli". Esta é uma frase, muitas vezes assertiva, dita por pescadores da Ilha de Santa Catarina. Realmente, o ilhéu se alegra com o bom tempo e fica mais ensimesmado com o frio do vento sul - (sudunga, rebojo ou pampeiro). E o vento sul chegou à Ilha de sol e mar para lhe tirar o sol. Há muitas histórias, causos e ditados sobre o vento sul, inclusive poesias. Nosso príncipe Cruz e Sousa, escreveu: "Eu quero perder-me a fundo / No teu segredo nevoento, / Ó velho e velado vento, / Velho vento vagabundo."
    Aproveitando os ditados de pescadores artesanais, compus algumas quadrinhas ao gosto popular para mitigar a sede por sol e elevar o ânimo apático, na trilha do ditado ilhéu, de quê: "quem canta, seus males espanta".





Urubu voando alto
Depois de um nordeste duro,
É vento sul de assalto
E marinheiro em apuro.

O vento sul quando vem
E pega a terra molhada,
Vem sem chuva, e note bem:
Enxuga-a numa rajada.

O vento sul quando vem
E pega bem seca a terra,
Atrás dele, note bem:
Vem chuva de fazer guerra.

Cerração baixa no mar
É sinal que o sol já vem.
Vento sul não vai chegar  
E o tempo bom vai além.


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

DIA DOS ARCANJOS

    Hoje é dia dos Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael, e para homenageá-los, eu posto aqui uma obra do famoso artista Rodrigo de Haro, de São Miguel, bem como um dos meus livrinhos que tem na capa um anjo que Rodrigo fez para ilustrá-lo. Deixo ainda um poema de um concurso literário que participei, tendo como tema, Augusto dos Anjos.


Publicado em:

AUGUSTO DOS ANJOS
E SUA TOSSE TÍSICA

O poeta é um vidente 
Que não enxerga o que vê,
Mas vê aquilo que sente
Qual se estivesse à mercê 
Do que lhe é evidente.
O Anjo Augusto, se crê,
Viu mais, depois de doente.


Pseudônimo: Arlindo Orlando
Autor: Laerte Sílvio Tavares 


domingo, 18 de setembro de 2016

PARAOLÍMPIADAS

As disputas se enceram, mas deixam a marca da garra e de superação dos competidores. Mais que isso, dão o exemplo, que condições de participação não se limitam somente a uma minoria, mas são para todos que acreditam em si e em seus ideais.

Nosso viva à Pátria amada
Pelas Paraolimpíadas!
Odisseia ou Lusíadas
De uma classe abnegada,
Que a deficiência é nada
A dar limite à vontade
 Ou abata a dignidade,
O patriotismo e o amor
À causa, e seja o que for,
É heroísmo, em verdade.

É um exemplo ao cidadão
Que olha sem ver o alvo
E enxerga o que está a salvo,
Apenas da seleção
Feita já de antemão
A desprezar a evidência.
Olhe os atletas: decência
A um Brasil periclitante
Dado a uma classe bastante
Desonesta, em sua essência.

Vejam alguns medalhistas:
Elmo Ribeiro, Andrezão,
Amintas Piedade... são
Referências em conquistas
Como outros altruístas
De espírito consagrado
Para deixar seu legado
De garra, de amor e fé
Tal Romarinho, Zezé,
Tito, Ozivam Bonfim
E tantos outros, enfim
Que nunca arredaram pé.

São heróis da Pátria amada
Por toda a abnegação.
São exemplos, à nação,
Emblemáticos, à entrada
De um país em novo rumo
Que necessita de aprumo
A modelo de civismo
Do teor do catecismo
Que seguiram os atletas.
Suas ações são repletas
De exemplos e heroísmo. 

Hoje se encerra a jornada,
Mas a noção de Lusíadas,  
 Da atual Paraolimpíadas,
É Odisseia deflagrada
No seio da Pátria amada
Feito o início do caminho
De um Brasil em desalinho
Seguir direção de um norte,
Qual dos heróis do esporte
Que indicam o rumo certinho.

Que hoje nosso Presidente
Assista este encerramento
E o tome como elemento
De inspiração. E ciente
Que temos que ter em mente,
De objetivo, a vitória,
Tenha de exemplo a memória
Desses seres limitados,
Cujos limites são dados

Que doem e que dão história.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

ANIVERSÁRIO DE BOCAGE


                                                   imagem - Internet

    MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE, poeta português nascido em 15 de setembro de 1765. Considerado um dos mais importantes do século XVIII, talvez o maior representante do arcadismo lusitano, que apesar da fama de grande satírico e improvisador, possuía uma obra que o consagrou como um dos melhores sonetistas líricos de toda a literatura portuguesa.
Na infância, Bocage já apresentava pendor para a poesia. 
Nas suas palavras: “Versos balbuciei com a voz da infância”.
Bocage soube versejar de diferentes maneiras, mas, segundo literatos do mesmo estilo, o soneto foi o que o identificou como “o melhor de todos em Portugal, incluindo Camões”. Em 1790, pela fama de improvisador, Bocage foi convidado a aderir a Academia das Belas Letras ou Nova Arcádia, em que assumiu o pseudônimo de Elmano Sadino. Ao passar do tempo, acabou por se saturar daquela atmosfera de mediocridade e passou a escrever ferozes sátiras contra os confrades da "triste, malfadada Academia" que Elmano tanto satirizou. Chegando a ser expulso.

                                       BOCAGE 

Boca de língua ferina,
Pena de gume tirano,
Verve que só teve Elmano
Foram a Bocage, a sina.

Sua verve foi divina
O seu criar soberano,
Quer no sagrado ou profano,
Sua arte uma doutrina.

Um viva ao grande satirizador!
O rei dos vates de maior valor,
Gozando a vida quase o tempo inteiro.

Como poeta de pouco pudor,
Afirmou um dia ser um ganhador
Que amou (...), comeu, bebeu sem ter dinheiro.


quinta-feira, 8 de setembro de 2016

NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA

Hoje comemora-se a data de nascimento de Nossa Senhora, e para homenageá-la compus um poema baseado em minha lembrança, em tenra infância, quando vi a figura da Virgem Maria. Lembro que a mamãe já me havia dito ser Nossa Senhora uma divindade do céu que só se poderia ver após a morte, ao ir para o céu junto dela, mas eu ainda não tinha me detido a olhar detalhes da obra. Creio que meses depois é que fui me dar conta do quanto aquela criatura era linda. Fiquei fascinado por sua beleza e até desejava morrer para viver em sua companhia. Eu deveria ter uns quatro ou cinco anos, mas lembro da minha fascinação.

Oh minha Nossa Senhora
Do meu tempo de menino
Que ao ver Teu rosto divino
Tive a paixão que devora
Instinto humano, e na hora
Senti também ser um deus
Compartilhando com os Teus
Dons de pureza e amor.
Em estado superior
Eu vi Teus olhos nos meus.

E como um Édipo santo,
Olhei Teu olhar com afeto,
Mas me achando indiscreto,
Virei para outro canto.
Porém, por um certo espanto
Era intenso o amor por Ti,
Mas mesmo assim me senti
Feito um grande pecador
Por dedicar meu amor
À mãe de Deus, frente, ali.

Hoje me lembro da cena
No quarto da minha irmã.
Lembro da cama e o divã
Onde sentei, e a pequena
Obra, para mim se acena
Como foto inusitada.
Eu não enxerguei mais nada
Além daquela figura
Cheia de graça e ternura,
Que era a Virgem sagrada.