Hoje, último dia de setembro, mês que abre a primavera, a paixão por flores buzinou-me para que eu homenageasse uma delas específica
como símbolo da estação. Veio-me a rosa-da-manhã alba e sem mácula, orvalhada
e exposta aos primeiros raios da aurora. Pensei na rosa-rubra oferecida a bem-amada na plenitude de minha adolescência, ao sentir eternizar-se o momento em que ela a tomou à mão, olhou-me com seus olhos negros, alongados e ternos, e baixou-os à flor à medida que a levava ao olfato a aspirar o aroma doce. Enquanto meu coração
disparava em ânsias por sua reação culminada em leve beijo sobre minha face,
possivelmente encarnada como a rosa-rubra, e a latejar perifericamente.
Pensei
na orquídea, mais precisamente na laelia purpurata, símbolo do Estado de Santa
Catarina, e do meu arrebatamento. Imaginei a dália e até mesmo a jurubeba,
flor narcótica utilizada pelos habitantes indígenas que nos precederam na ocupação da ilha que habitamos.
Finalmente, com um toque longo e um breve, a buzina da paixão sinalizou-me
à flor augusta da vida, para a qual elaborei um pequeno soneto em sua homenagem.
Caladium (popularmente: tajá, tajurá ou tinhorão)
AUGUSTA FLOR
Autor: Laerte Tavares
Lascivo caladium em florescência
Voluptuosa, corola labiada
Do gineceu – tu és paixão, amada!
Sonho de luz – tu és concupiscência!
Feito desejo tosco, em sua essência,
O falo ou androceu sem ver mais nada,
Só mira com a paixão exacerbada,
O gozo do prazer. Mas a existência
De um novo ser virá quando, então, for
Consumada a união sem mais pudor.
Oh, cárnea flor que excita e seduz,
Tu simbolizas vida, luz, amor,
Qual ser divino que é reprodutor
Augusto e eterno, por em dor, dar luz.