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domingo, 24 de junho de 2018

"PASSEI NO VESTIBULAR", POIS ESTOU NO VESTÍBULO DA ARCÁDIA

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ESTOU NO VESTÍBULO DA ARCÁDIA 

Lawrence Durrell disse que “o homem é uma vaidade sobre um par de pernas”. Não querendo me expor à exacerbação desse sentimento, mas dando lugar modesto ao meu contentamento, com a devida humildade, com a qual procuro moldar minha alma e mente, não poderia deixar de comunicar a amigo(a)s que por inscrição que fiz na Academia Catarinense de Letras, em outubro último, como candidato à cadeira dezesseis (16), cujo último ocupante foi o saudoso mestre Alcides Abreu,  após análise de sete obras minhas e eleição efetivada no dia 22 do corrente mês, os acadêmicos elegeram-me, dentre os concorrentes, membro daquele sodalício.
Feliz, sim, estou! Mas envaidecido, não. Dizem que “não é dado ao saber humano conhecer a extensão de sua própria ignorância”. Por analogia, poder-se-á dizer que não é dado também ao saber, conhecer a intensidade de nossa própria verve, nem a magnitude anímica com a qual cada ser é dotado, porque a alma é uma entidade atemporal e imaterial emprestada a cada ente humano. Dito isso, posso afirmar que por desígnio desconhecido, fui guindado a estar apto à investidura em Academia Literária prestimosa de grande tradição nacional por onde passaram luzeiros da cultura brasileira. Faço essas considerações para dizer que não posso julgar se sou digno dessa singular investidura ou não – “em cada cabeça haverá uma sentença”.
Por ocasião da posse, noticiarei aqui, data e horário, pois será um prazer enorme ver amigos ao meu lado para importante brinde à literatura.
Cordialmente.
Laerte (Silo)

domingo, 17 de junho de 2018

HOJE, A PALAVRA É: LUTO




Com grande pesar, este blog que se propõe ser um blog literário, neste dia vem comunicar o falecimento ocorrido na última quarta-feira, e convidar para a Missa de Sétimo Dia de Antônio Carlos Konder Reis, sem deixar de postar ao mesmo tempo, um dos textos literários escrito há algum tempo por Dr. Antônio que era membro da Academia Catarinense de Letras; meu vizinho, grande amigo de elevada estima e consideração e um político bem quisto não só em nosso Estado, mas em todo o território brasileiro por ter sido ele, o relator da última Carta Magna ou Constituição Brasileira de 1988. Antônio Carlos Konder Reis nasceu em Itajaí, SC em 16/12/1924 e faleceu em 12/06/2018, em Itajaí, SC, filho de Oswaldo dos Reis e Elisabeth Konder Reis, irmão do poeta Marcos Konder Reis e sobrinho de Adolfo Konder, Arno Konder, Vítor Konder e Marcos Konder, figuras de destaque nacional. Antônio foi um dos maiores estadistas brasileiro e advogado por profissão,  participando, em 1946, do Congresso Nacional dos Estudantes, sendo eleito secretário de intercâmbio da União Nacional de Estudantes. Foi deputado à Assembleia Legislativa de Santa Catarina na 1ª legislatura (1947 — 1951) e na 2ª legislatura (1951 — 1955). Elegeu-se deputado à Câmara dos Deputados por Santa Catarina na 40ª legislatura (1955 — 1959) e na 51ª legislatura (1999 — 2003), senador (1963 — 1975), vice-governador do Estado de Santa Catarina (1991 — 1995) e governador de Santa Catarina (1975 — 1979) e em 1994. Era membro da Academia Catarinense de Letras, empossado na cadeira 22 em 30 de março de 1983. Homem público exemplar, notabilizando-se por sua retidão de caráter e honestidade, orgulho para seus compatriotas. Ele era de uma simplicidade impar em que preferiu viver seus últimos vinte anos de aposentadoria, morando até sua morte aos noventa e três anos de idade junto a pescadores artesanais em uma casinha modesta à beira do mar em Armação do Itapocoróy, Penha, SC, onde éramos vizinhos. Dedicava-se quase que exclusivamente à leitura, à escrita, à religião católica e ao convívio com os amigos locais. Desde tenra idade tinha adoração pelos textos de Tolstoi, enquanto seu irmão, Marcos Konder Reis, grande poeta brasileiro, tinha admiração por Dostoiévski. Antônio Carlos, orador emérito e escritor meticuloso no trato da língua portuguesa e da palavra bem empregada, escreveu diversos textos magníficos. Vejam este a seguir, de Antônio Carlos Konder Reis:


terça-feira, 5 de junho de 2018

MANEZINHO DA ILHA

OBRA DE RODRIGO DE HARO PARA O LIVRO "CANOAS VENTOS E MARES" DE LAERTE TAVARES


Na Ilha de Santa Catarina o antigo ilhéu nativo, de origem portuguesa, é de característica notável por seu desprendimento material, perfil bonachão, modos simples e um linguajar peculiar que o distingue, ao falar com entonação rápida e entrecortada num sotaque de origem açoriana e arcaico. Além disso, ele mantém ainda, o secular espírito do pescador artesanal, emérito gozador e otimista. Até pouco tempo, letrados julgavam-no simplório, porém hoje, o Manezinho (figura cada vez mais rara), como é chamado carinhosamente, é indivíduo proeminente e venerado pelos demais habitantes. Assim, todo mundo que chega a terra, quer ser um “Manezinho da Ilha”. 
A Prefeitura local estabeleceu um dia do ano comemorativo a essa figura especial, sendo o dia consagrado a ele, o primeiro sábado do mês de junho. Isso, para não esquecermos tal “espécime”  que jamais poderá ser extinta ou esquecida. Cabe a nós o dever de preservar a notoriedade do Manezinho, meio às diversas etnias cá estabelecidas.
Junto ao ilhéu, vive também o gaúcho rio-grandense, do sul. Outra figura folclórica, caracterizada por “macho de faca na bota”, feito à imagem do valentão destemido... Consta que um deles, certa vez, quis gozar de um Mané e o “pau pegou”. Em homenagem ao Dia do Manezinho, apresento alguns versos referentes a essa façanha.   


CANTIGA AO DESAFIO ENTRE MANEZINHO E GAÚCHO 


Eu sô Mané i nô nego.
Mas não sô burro nem cego
Como tu pensa, istepô!

Não intisica, qu’eu brigo!
Sô amigo dus amigo.
Não caçoe, pur favô!

Pos tu, a modi qui qué
Fazê qui eu sô zé mané...
E mi dexa incanzinado
Pra briga, seu disgramado!

Mas cuaal, tchê?
Você não vê
Que amo o sotaque teu?

Sou gaúcho de respeito!
Eu ademiro o teu jeito
De não falar como eu.

Até já sou manezinho,
Bebo o café com o vizinho
Em lugar do chimarrão
E ando até de pé no chão.

Intão: enche teu pandulho
Di tainha cum dibulho
I a inhapa di cachaça...

I vê si não mi arrenega,
Si não ti dou uma esfrega
Pra ti mostrá minha raça!

Não mi vem cum arremedo.
Di macho, não tenhu medo!
I não mi encazini más,
Qui já tô di pé atrás.

Mas bah, eu ti-ve o a-zar
De assim eu pro-nun-ci-ar
Teu so-ta-que especiall...

Que-ro que sa-i-bas amigo,
Qui me dou tão bem con-ti-go,
Qui, sem querer, fa-lo iguaal.

Eu a-de-miro o teu je-i-to
Por ser um amigo do pe-i-to.
Ti guardo no coração
Como se foste um irmão.

A modi qui, intão, gaúcho,
Adiscurpa! Eu disimbucho
Quandu mi tiram du sério.

I sou um lobo do mar,
Possu insinar-ti a pescar
Como pretendis, gaudério!

Disarrisca o qui ti disse:
Eu fui tanso, foi tolice
Di um Mané arreliado.
Adiscurpa, i obrigado!

Eu que agradeço, meu rei,
Por me desculpar. Nem sei
Te agradecer, guasca macho!

Tu me deixastes sem graça.
Sem tu, de amigo na praça
Fico com cara de tacho.

Porém, agora eu já sei
Que sou amigo do rei
Desta fabulosa ilha
Que tanto me maravilha!

Gosto de te ver na venda,
Deixo em casa minha prenda
E venho beber contigo.

Tu és um amigo que eu gosto.
Não duvido, mas aposto,
Que concordas com que eu digo.

Vamos beber mais um trago
E esquecer de tudo, agora.
Deixa que a cachaça eu pago...
Saúde por vida afora!