DEUS CHRONOS DEUS KAIRÓS
Para
que serve o tempo em sua inexorabilidade
Mais
fria que a lâmina do punhal assassino erguido
Sobre
o peito de um cristão caído?
Será
cravado sem piedade – assim como o tempo passa.
Para
que serve o rubor e a beleza da rosa-rubra, que
entregue às mãos da amada de olhos longos e atentos, ao
aspirar o doce aroma, irá murchar, e sucumbirá?
Para
que serve a estrela da manhã anunciando a aurora?
Ela
é eterna, mas está no céu, e a nós é inatingível.
E a
lua airosa, para que serve, se tal como a estrela não podemos tocá-la?
Será
o céu uma ideia apenas, no campo das hipóteses?
Para
que serve a fonte fresca, na qual se banham ninfas, se eu em vão, tenho-as
procurado e nunca as encontro, bem como, nem sede sinto para a mitigar?
Para
que servem as palavras dos profetas e sábios que dizem serem eternas?
Para
que servem os beijos da minha bem-amada? Para que serve o vinho: o vinho que me faz esquecer que a vida não vale nada?
Não
valer nada?!... Duas negações formam uma afirmação - assim disse o mestre que eu
abandonei. A vida vale tudo? Mas vale tudo o quê?
O tempo?...
Para
que serve o tempo? Ah, não o vejo, porém sinto ser ele, dois elementos:
O
tempo de “Chronos” poderá passar ao largo, esse que às vezes nos oprime com seu
peso, mas “kairós”,
a intensidade do tempo que muitas vezes representa gozos, regozijo e sonho, é precioso.
De
ambos faço a pedra angular sobre a qual ergo as colunas da edificação de meus
sonhos, apontando
aos céus, e mesmo que o tempo seja inexorável ao passar, devo nele embarcar, e na
viagem, realizar meus sonhos.
E o
rubor da rubra rosa, para que serve?
Será
esplendoroso, ante o esplendor dos olhos longos e ternos da
minha bem-amada, detidos por longuíssimo tempo, antes de ceder à sofreguidão minha pela espera de seus lábios mornos virem tocar-me a face. Ah,
esse beijo ficará eterno na memória deste romântico e sonhador.
E a
estrela da manhã?...
Devo
deter meus olhos na doce aragem do frescor da atmosfera em brisa úmida, ao mirar a estrela acesa até que a alvorada a apague com os primeiros raios de sol a
ofuscar meus
olhos, forçando-me a olhar o horizonte oposto e avistar a vida despertando.
Ver
a luz retirar as sombras da atmosfera, e decompondo-se a formar os matizes mais
diversos, e os tons
em amarelo ouro que irão dourar-me a memória com esta manhã tão
bela.
A
estrela modelará meus sonhos para que em dias futuros, a doçura e a ternura da brisa daquela manhã já
distante, sejam-me, no futuro, um presente do passado, no presente.
E as
palavras de sábios, filósofos e profetas?
Servem
para modular as minhas palavras e enaltecer a alma em sentimentos de gratidão.
Com
o agigantamento da alma, tudo serve, tudo está perfeito e vale à pena enfrentar
percalços para
viver a grandiosidade da humana vida.