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terça-feira, 3 de janeiro de 2023

MINHA HIGIDEZ

Poemas que compus quando internado: 

HOSPITAL 

O hospital nos reconforta.

A atenção é enorme.

Enquanto se come e dorme,

Alguém bater à nossa porta.
 

Deus escreve em linha torta.

Faz com que o mal se transforme

No bem e, assim, conforme,

Dá luz à vida não morta.
 

O hospital é um hotel

Cinco estrelas, no papel

De nos restaurar a vida.
 

É feito a um servo fiel

Com a vida em lua de mel

Dando à saúde guarida.

 

"OH, VIDÃO"
 

É trinta e um de dezembro.

A Sandra e eu no hospital.

Para cumprir ritual,

Trilhei tradição que lembro.
 

Brinde de espumante ao membro

Direito, via canal

Venoso. Com a via oral

Eu canto, em voz que desmembro:
 

Uma voz, faço em tenor.

Sandra, em soprano inferior

Formando, assim, um dueto.
 

Feliz Ano Novo, Amor!

À Luz do Pai Criador,

Dancemos, em minueto!?...


    Baixei ao hospital para reposição de sódio por inchaço generalizado, decorrente de disfunções cardiovascular-respiratórias e detectaram, dias após ao tratamento,  uma agressiva erisipela bolhosa nas pernas.
    O importante disso foi como encarei, otimista, a provação, chegando a encaminhar um poema ao médico amigo, Dr. Jorge Helias que nos ligava constantemente, bem como a um colega escritor de Blumenau que havia me enviado seu livro recém-editado, Cao Hering, ironizando que eu estava a brindar com espumante, via venosa, em companhia de minha esposa, o primeiro do ano.
    Porém, ainda mais curioso é que recebi alta ao meio-dia do dia primeiro do ano e da cadeira de rodas, na qual a enfermeira me conduzia à portaria do nosocômio, já liguei à central de radiotáxi pedindo um carro. Passados alguns minutos, recebi mensagem informando não terem localizado táxi, ainda, mas continuariam tentando. Aguardei e veio a resposta de que não existia carro àquele horário. Liguei ao aplicativo Uber – recebi mensagem de preço majorado ao valor da corrida, mesmo assim confirmei. Responderam-me que a corrida foi cancelada por não haver veículo disponível. A portaria do Hospital ligou para todos os pontos de táxis que tinha na lista, sem que um só atendesse. Meio-dia de Primeiro do Ano, a cidade morta, às moscas, com a posse de todos os políticos, à tarde, nem carro passava em frente ao prédio. 
    Inesperadamente, um anjo azul da Pomerânia, se me revelou: estacionou à minha frente, um flamante automóvel Corola. O condutor saltou, dirigindo-se à cabina de cobrança do parque, do meu lado. Analisei o ariano de dois metros e dirigi-me a ele. Expus meu drama e indaguei se seria capaz de conduzir-nos a nossa casa (minha mulher carregada de bolsas e valises e eu), situada nas imediações próximas. Ao que ele, imediatamente, disse sim; abrindo as portas do carro para que eu me acomodasse ao banco dianteiro e minha mulher no banco de trás. Deu início ao trajeto e nos falou: o pior é que meu pai, que se encontra na U.T. I., indagou-me se o corrupto já tinha tomado posse e eu lhe disse que não. Respondi-lhe: É, que vergonha, as nossas Forças Armadas deixarem os patriotas que estão há mais de cinquenta dias acampados em frente aos quartéis; gente idosa, tomando chuva e vento, dormindo em barraquinhas e os militares não deram uma declaração a eles, como se a posse do Ali Babá fosse normal, perante tantos indícios de anomalias na forma como foi processado o pleito. É o cúmulo do desrespeito e falta de consideração para com o povo brasileiro de bem. Eles perderam toda a credibilidade. São odiados pela esquerda e, agora, serão rejeitados pela direita. Triste fim de uma instituição que tem como patrono, nosso herói maior, o Duque de Caxias. O senhor assentiu e eu fiz mais alguns comentários sobre outros Judas, indagando o seu nome? – Celso Hofmann. Não querendo ser um atrevido inquisidor, deixei por isso e fui de copiloto orientando o trajeto, quando, por excepcionalidade, havia uma farmácia de plantão no percurso, onde ele parqueou o auto e desembarcou para comprar materiais de higiene ao pai. Já servido, deixou-nos em frente ao nosso edifício. Emocionado, consignei nossa gratidão.
    Minha mulher acionou códigos de uma e outra porta de acesso ao prédio, código do elevador social e, finalmente ao doce lar.
    Apelei aos meus contatos tentando encontrar dados sobre o anjo azul e no dia seguinte recebi do meu fraterno amigo Braz da Silveira, escritor e emérito acadêmico da Academia de Letras da cidade vizinha, Biguaçu, onde ambos residem, dados que o amigo, com credencial de Sherlock Holmes e olho de geômetra, conseguiu-me todos com endereço postal do cidadão, deixando-me apto a enviar-lhe um bom vinho e uma cerveja alemã como homenagem à sua generosidade. 

Poema declamado por Laize Alves, do livro ESPERANÇAR