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quinta-feira, 27 de abril de 2017

REFLEXOS

Imagem web

Eu quero amar de paixão mais ardente.
Eu quero arder nas chamas do amor quente
Ao dar-me inteiro sem ter restrição,
A exaurir meu ser conforme a lenha
Que queima, arde, incendeia e que tenha
A fulgurosa luz de uma paixão.
 
Mas quero ser amado com a ternura
De um comedimento com a mais pura
E angelical leveza da tangência
De certa luz difusa e luzidia
Que incide, que reflete e que irradia
O amor feito em maior benevolência.
 
Não quero ser a presa de mim mesmo
Em ser amado por amor a esmo
Do meu domínio de objeto alheio.
Eu quero luz, quero amor e carinho.
Mas quero a paz, sem ser triste e sozinho,
Sendo ela eu, e eu posto em seu seio.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

REBALDARIA OU RIBALDARIA


Praia do antigo porto baleeiro de Armação do Itapocoróy, Penha, SC
  
Na imagem, representando os filhos do lugar, Paulo Renato Freitas (D) 
e Emir Custódio (E).
Observem a tradição portuguesa pela Cruz de Malta em uma lancha 
baleeira e o nome do bote - Divina Providência
ARMAÇÃO DE ITAPOCORÓI

                    Rebaldaria ou Ribaldaria


    Antigamente, na tradição do povo do litoral catarinense, entre descendentes de portugueses açorianos e continentais (do Porto, Braga e Nazaré), a Rebaldaria era um costume corriqueiro. Em Armação do Itapocoróy, Penha, na madrugada de Sexta-feira Santa para o Sábado de Aleluia, a rapaziada saia às ruas a fim de praticar suas traquinagens. Junto à população mais antiga é possível se ouvir relatos curiosos sobre o assunto, muitas vezes hilariantes.
    Geralmente, em grupo, os mais moços tinham por hábito fazer uma verdadeira bagunça na rotina da vida dos habitantes locais, provocando transtorno no transcurso do pacato sítio; surpreendendo a população, ao amanhecer. Entre as travessuras constam a obstrução de vias públicas, em que atravessavam canoas, lanchas e carroças no meio das estradas; amarravam os portões das residências com cordoalhas, dificultando a abertura; colocavam estivas, vaus ou rolos (peças de estrado de carreira usadas para puxar as embarcações miúdas na praia) em pé e encostados nas portas das residências para que quando o morador fosse abri-las, tudo caísse dentro da casa.
    Num episódio ocorrido em Luiz Alves, município vizinho à Penha, de tradição cultural semelhante, consta que um jovem rapagão e sua turma, na prática de rebaldaria, arrancou a porteira de um pasto lotado de gado deixando o fazendeiro com seu plantel solto e os animais dispersos em toda a área contígua à propriedade. Ao descobrir a autoria do delito, o proprietário prestou queixa na delegacia, o delegado chamou os autores e ordenou a prisão do líder. Passado algum tempo, o moço infrator engraçou-se pela filha do antigo denunciante; os jovens começaram a namorar e sem qualquer empecilho, terminou em casamento.
    Não se tem certeza da origem do costume. Alguns pescadores mais antigos supõem ser uma representação sadia da indignação do povo cristão contra a crueldade cometida a Cristo, ao sacrificar um inocente que só o amor pregava. Outros dizem ser sinal de regozijo pela ressurreição do Salvador. A verdade é que a sociedade sabendo, que dentro do possível, tudo era praticado em nome da tradição, relevava a nefasta atitude, considerando-a uma brincadeira apesar de surtir, algumas vezes, prejuízos.
    A palavra ribaldaria ou rebaldaria é comum no linguajar em Portugal, significando confusão, tumulto, caos. Consta que no Alentejo, até uns cinquenta anos, havia rebaldaria de forma mais branda, na manhã de Sábado de Aleluia em menção de felicidade pela ressurreição de Cristo. Consultada uma amiga portuguesa, ela respondeu: "Por cá há algumas tradições assim, mas na altura do Carnaval, mesmo antes de entrar na época da recolha da Quaresma. Talvez o mais parecido que há aqui, é uma tradição numa cidade perto da minha onde fazem uma "queima de Judas" que consiste num espectáculo de teatro, música, fogo de artifício e onde se aproveita para chamar à atenção de certas questões "difíceis" que tenham acontecido nesse ano."


Ah, santa Rebaldaria!
Que o povo português
Deixou de herança e a fez
Por tradição, que seria
Revolta com rebeldia
Contra a morte de Jesus
Crucificado-o na cruz
Sem ter culpa – um inocente
Que pregou o amor somente
E ao amor não fez jus.

Soltam cavalos, cabritos...
Obstruem vãos inteiros,
Prendem gente nos terreiros,
Alteram jardins bonitos
E seguem os antigos ritos
Preservando a tradição.
E, assim, esses atos são
Pouco levados a mal,
Dado o lado cultural,
Mesmo que fuja à razão.