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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

FESTA DE SÃO SEBASTIÃO EM ARMAÇÃO DO ITAPOCORÓY



Imagem de São Sebastião - Internet

IMAGENS OBTIDAS NO BLOG ANOTAÇÕES DE CADERNOS DE MARIA DO CARMO
POSTADAS EM 15/01/2015:







    Na pequena praia de colonização portuguesa Armação do Itapocoróy há santos às devoções diversas. Entre os mais importantes se destacam São Pedro o patrono dos pescadores e São João Batista, padroeiro do lugar. Santo, também muito recorrido às graças, era São Gonçalo do Amarante, santo português tocador de viola que segundo as más-línguas, tomava umas e outras para celebrar a vida.
    Entre santos tantos, os festejos de São Sebastião dar-se-ão em janeiro e têm grande evidência dado o ritual, principalmente em relação ao seu mastro sincrético de outra religião, com uma enorme procissão dos fiéis. É interessante a celebração, por obedecer ritos tradicionais dos quais muitos se perderam no tempo. Inclusive o refrão do cântico principal "Minero Dô, Minero Dô!...”, semelhante ao ritmo da congada africana que coroava o rei do Congo ou do Moçambique, bailado guerreiro africano, não se sabendo ao certo a tradução literal que para aproximar religiões pelo sincretismo, veio à festa do santo.
    A procissão do mastro, como outras festividades religiosas, conta com seus festeiros – devotos responsáveis principais pelo evento ao respectivo ano. O festeiro ou promesseiro de 2020 a São Sebastião seria meu nobre amigo Carlos Malburg, arquiteto carioca que faleceu no transcurso deste ano de 2019. Ficando seus familiares responsáveis pela organização dos preparativos. Carlos era devoto de São Sebastião padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, sua terra natal, também admirador da tradição do mastro trazida pelos portugueses e que se mantém viva em Armação.
    Muitos milagres são atribuídos a esse santo aos mais diversos casos de enfermidade humana. São Sebastião também tem referência à proteção dos animais, produzindo curas em rebanhos doentes.  

SÃO SEBASTIÃO

Que bom que o falo pagão,
Marco da fertilidade,
Serviu como identidade
A que São Sebastião
Fosse símbolo cristão,
Devido ser amarrado
A um tronco e transpassado
Por flechadas de arqueiros,
Para dar seus derradeiros
Suspiros de infiel soldado.

Ele, soldado romano,
Foi um pagão convertido
E não fazia sentido
Ao imperador soberano
Ver seu herói noutro plano
Que não fosse planos seus.
Porém, os planos de Deus
Eram outros, e o soldado
Depois de preso e flechado
Ainda pregou aos ateus.

Porque foi tido por morto,
Com o corpo todo ferido
Sem exalar um gemido.
Mas, por um caminho torto
Conduziram-no ao conforto
De um lar. E o santo soldado
Com o seu corpo mutilado,
Por obra divina e plano,
Fez o sagrado e o  humano
Suplantarem aquele estado.

Curado, saiu pregando
E convertendo pagãos
Para os preceitos cristãos
Ensinados desde quando
Cristo pregou e ao Seu mando,
Dizia o doutrinador.
Estava ali dando o Amor
Trazido por Deus Menino.
Ia levando esse ensino
De Jesus Nosso Senhor.

O imperador, ao saber
De Sebastião estar vivo,
Sentenciou incisivo  
Do alto de seu poder,
Que matassem aquele ser
Nefasto ao imperador.
E com cão farejador
Atrás da sua pegada,
Ele foi morto à paulada,
Enquanto pregava o amor.

Na Praia da Armação,
Os devotos fazem a festa
Com um tronco da floresta,
Um mastro, por tradição
Em honra a São Sebastião,
Sob um grande festival,
Expressão tradicional
De festejos a esse santo,
Com versos livres de canto
Ao tambor, tal ao ritual.

Para imitar o soldado,

Os homens põem um casquete 
Como um elmo que remete 
A estar uniformizado. 
Com mais um saiote atado 
Sobre a calça o faz conforme
Peça do antigo uniforme 
Que o soldado romano 
Usava. E sem ser profano, 
Faz-se à semelhança enorme.

Do rito, o mais importante
É o enfeite do pau
Colocado em um jirau,
Tendo flores, o bastante,
Que as mulheres, com barbante,
Atam-nas ao mastro e vão
Enfeitando com uma porção
De ramagens e de flores
Cantando versos de amores
Para São Sebastião.

E pedem fecundo amor,
Rogam luzes a dar à luz,
Com batuque que as conduz
À alegria; e ao sabor
Da consertada, um licor
Feito à base de aguardente
E gengibre. O povo crente
Com vontade que sobeja
 Conduzem até a igreja
O mastro aos ombros da gente.

Assim com o mastro enfeitado,
 É feita a grande puxada
Ao longo da extensa estrada
Em que o tronco é levado 
Ao lugar determinado,
Sob aplausos e cantigas.
Rapazes e raparigas
Oferecem consertada,
Broa, bolacha, cocada,
Conforme às festas antigas.

E, ao MINEIRO DÔ, cantando
Chegam à igreja, no local
Para um novo ritual.
Tange o sino em toque brando
Com a cantoria, até quando
O mastro ter sido erguido
Com corda, bambu, gemido,
Grito, palma, aplauso, até
O mastro ficar em pé,
Dando ao rito outro sentido.

Vem reza, vem brincadeira,
Abraço, conversa, canto,
Salva de palmas ao santo
Até hastearem a bandeira
Que, lá no mastro, altaneira
Leva São Sebastião
Mostrando ao povo cristão
Para que de longe veja
Que haverá festa de Igreja
Na Paróquia de Armação.

Dias depois logo vem
A missa e, ao fim, um leilão
De pães de massas que são
Representações que têm
A ver com milagre a alguém.
Há pés, como pés curados,
Braços, corações... são dados
Que apontam ao órgão, à graça.
E os pães levados à praça
Da igreja são arrematados.



NOTA DE RODAPÉ:
VIVA O CENTENÁRIO DA ACADEMIA CATARINENSE DE LETRAS - ACL2020

sábado, 7 de dezembro de 2019

NATAL É TEMPO DE LUZ


Imagem - Internet

O adulto é o menino que ele foi até aos sete anos de idade. À época do Natal, essa constatação aflora-me a alma e inunda o meu espírito da luz dessa verdade. Verdade transposta ao ser como uma tempestade de sentimentos que oscilam em uma vibração senoidal  de paz, culpa, regozijo festivo, luz do real, sonho, saudade, solidão, comemorações fraternais e até certa angústia por não poder restabelecer a infantilidade. Isso porque me assedia um certo sentimento de culpa em ter traído aquele antigo menino; ao deixá-lo abandonado ao tempo, enquanto eu percorria sozinho, um caminho anacrônico ou atemporal que me conduzia à maturidade, talvez pequei. Às vezes, sinto vontade de lançar a ele um salva-vidas, atado a uma corda a fim de resgatá-lo da imprecisão daquilo que sonho. Porém um raio de luz, na tempestade cérebro-sentimental, confunde-me e ele estiola no meu pensar a me levar ao devaneio, perdoa-me! Retorno à realidade com o sentimento do amor carente – aquele amor que do espírito emana para amar; e a razão do ser quer recebê-lo por carência afetiva, própria do adulto – a eterna criança.

Entretanto, qual é o mundo do menino que leva este adulto à “brain storm” (chuva de ideias – tempestade cerebral)? Seria o mundo do ritual natalino à época da sua infância, como o mundo dos ternos de reis – tradição portuguesa; o da confecção dos ninhos com barba-de-velho e flores, no qual o bom Velhinho depositava os presentes de Natal às crianças? A tradição dos ninhos se perdeu no tempo, entre toda a gente – um rito, já não praticado, que revive em mim ao reviver a alegria que o Natal traz-me à alma. Em casa fizemos uma réplica de um ninho de Natal, ao nosso filho Arthur, quando criança, para um agrado ao coração da família e uma lição aos dois meninos – filho e pai.



O ninho do Natal – receptáculo dos presentes natalinos às crianças; e um pequeno poema natalino.
Outras publicações natalinas:


NATAL DO INFANTE

Eu sou a criança, aquela
Que fui quando era menino.
Tendo tangente o divino
Na alma augusta e singela.

Em minha mente a procela
 Cerebral, tira-me o tino,
Porém, o antigo ensino
Do que é Natal se revela.

E assim, eu sinto o Natal
Do infante sentimental,
 Dentro da alma, unicamente,

Como o mais transcendental
Fenômeno espiritual
Que diviniza alma e mente.



 Ninho natalino com barba-de-velho e 
flores da época


Colocação do ninho em frente a lareira
à espera dos presentes de Natal





quarta-feira, 13 de novembro de 2019

ÁTILA ALCIDES RAMOS – O ARTISTA



    Este espaço está no momento a guinar em direção à cultura da Ilha d’ídílios, por oportunidade aos ventos favoráveis a tantos interesses nos resgates da nossa rica História. Referi-me ao Rodrigo de Haro e ora, irei me referir a outro grande artista de nossa terra, o engenheiro e historiador ilhéu Átila Alcides Ramos, meu amigo fraterno que, além de outros atributos, é pintor de magníficas. Átila estuda quatro vertentes específicas da história da Ilha de Santa Catarina – Carnaval, cinema, saneamento básico e sobre a vida marinheira dos habitantes.

No livro CINEMA DE FLORIANÓPOLIS, Átila narra que no dia 28 de dezembro 1895, no Salon des Indiens do Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris, acontecia a primeira apresentação pública oficial do cinematógrafo. E na Ilha de Santa Catarina, em 21 de julho de 1900, houve a primeira apresentação dessa arte (da internet à caravela há distância...), e no ano de 1908 é inaugurado o primeiro cine com exibição de Figarot da ópera de Rossini, O Barbeiro de Sevilha. Depois disso, o cinematógrafo tornou-se familiar na Capital Catarinense.

Ora, decorreremos sobre vocação marítima da Ilha e o seu desenvolvimento pela navegação, pois “quem puxa aos seus não degenera” – dizia minha mãe que “nasceu analfabeta” e se alfabetizou. Assim, a ilha dos silvícolas marinheiros que ganhou o reforço dos marujos portugueses não poderia ter destino mais glorioso do que o mar e portos de grandes e famosos navegadores antigos.

Ao empreendedorismo moderno, recebemos o sangue alemão de  Brandemburgo, na pessoa de Carl Franz Albert Hoepcke que chegou a Blumenau em 1863, e evoluindo comercial e economicamente, estabeleceu-se em Florianópolis onde constituiu um império terrestre e marítimo. Quando o mundo começou a usar a máquina a vapor, nossa ilha também a usava nos navios do senhor Hoepcke que armou uma extraordinária frota de navios mercantes e de passageiros. Átila reproduziu essas embarcações em acrílico sobre tela e os descreve com maestria, cujas fotografias das obras que os representam, aqui postamos para ilustrar o quanto esta ilha sempre foi pujante.

E para não afastarmos o lado literário, fica também um pequeno poema: 



MAR D’IDÍLIOS 


Tu que nasceste no mar,
Ó ilha, és marinheira.
Mas, lembra: estás à beira
Do continente, o teu lar.

A terra foi teu lugar
De construção – na carreira
Do estaleiro, à maneira
Destinada a navegar.

E sendo de almas iguais
Teus povos; com ideais
Afins à navegação,

Silvícolas e portugueses
Fizeram o mar, muitas vezes,
De pátria, pois dele são.

*****

OBRA DO ARTISTA ÁTILA
SOBRE OS ANTIGOS CINEMAS
DE FLORIANÓPOLIS


ÁTILA RAMOS - NAVIO CARL HOEPCKE  


ÁTILA RAMOS - NAVIO ANA - NA CARREIRA 
DO ESTALEIRO ARATACA 


ÁTILA RAMOS - NAVIO ANA - NA CARREIRA 
DO ESTALEIRO ARATACA


ÁTILA RAMOS - NAVIO META
 SINGRANDO EM PARANAGUÁ - PARANÁ


ÁTILA RAMOS - NAVIO MAX 
- EM LAGUNA / SANTA CATARINA


FOTO DO CAIS E ESTALEIRO ARATACA 
DE PROPRIEDADE DA HOEPCKE 


FOTO DE CARL FRANNZ ALBERT HOEPCKE 
 

FOTO DO NAVIO CARL HOEPCKE  


 EIS O ARTISTA - ÁTILA  RAMOS


Átila Ramos junto a pintura de sua autoria