Linguagem[+]

domingo, 30 de julho de 2017

Haicai

     Haicai é um estilo literário de poemas em que com apenas dezessete sílabas, em três versos, o poeta descreve um momento da natureza captado e expresso da seguinte forma: o primeiro verso com cinco sílabas, rima com o terceiro verso, também de cinco sílabas, enquanto o segundo verso de sete sílabas deve ter a rima entre uma palavra anterior com a última palavra do mesmo verso. 
     Esta forma poética tem origem oriental japonesa do século XIII e chegou ao Brasil no século vinte. Advém da filosofia Zen Budista representada pela brevidade e simplicidade. Os poemas são projetados para transmitir a essência de uma experiência em formato curto. Hai, no linguajar japonês, significa brincadeira e kai, harmonia. 
     Normalmente, com um haicai acompanha uma pintura chamada Haiga, quase sempre é flor, e eu, querendo postar meus haicais e homenagear o grande poeta brasileiro Mário Quintana pela passagem de seu dia de nascimento (30/07/1906), arbitro, como minha haiga principal, uma moldura com um poeminha a Quintana, depois os poemas com outras haigas.




 

Cor azul-anil

É que cora uma aurora

De primaveril





Roseira a florir
A abelha senta e espelha
O fruto ao porvir

Fruto que sente
O ouro novo vindouro 
Que é a sua semente

Semente santa
Que na terra se enterra 
E vira árvore - planta 

Que a voz do vento
Vaga voe e traga
Bom pensamento

Sol é um tesouro
Cora e cobre a aurora
Com a luz de ouro

Que estranho é o mar
Bravio emite assobio 
A cantarolar 



quarta-feira, 12 de julho de 2017

BALADA


                                      Balada, cantada ao som dos alaúdes - Imagem internet


    Mais uma incursão literária de meu espírito atrevido, mas não insolente, no âmbito da poética – querendo ele compor uma balada, e com o amparo da razão, colocamo-nos em campo de prova.
Balada, conforme descrito, é um poema estruturado de forma fixa com vinte e oito ou vinte e nove versos, distribuídos em três estrofes de oito versos (oitavas) e uma estrofe de quatro (quarteto) ou cinco (quintilha) versos. A última estrofe tem o nome de oferenda ou ofertório, porque nela o poeta oferecia sua composição a alguém ou fazia um pedido, normalmente de relacionamento. A estrutura métrica, quase sempre, era de versos octossílabos e as rimas cruzadas. Havia no conjunto, ainda, o paralelismo que seria a repetição de um mesmo conceito nos versos finais de todas as estrofes.
    Essas formalidades começaram a partir do século XIV, na França, principalmente com Villon, e na Alemanha com poesias narrativas folclóricas ou tradicionais. Já no século XIX, Chopin usou o título BALADA em quatro obras suas, ao piano. No entanto, bem antes, os cancioneiros da Idade Média compunham baladas em forma de canto, acompanhados de coreografias e recitações líricas ao som da lira ou alaúde, mas sem rigidez na composição.
    No Brasil, a balada teve maior prestígio na poesia parnasiana quando se procurava retomar ou reviver as formas fixas, abandonadas pelo romantismo. Olavo Bilac compôs excelentes poemas baseados inteiramente nesse estilo literário. Depois, outros poetas as compuseram, mas já de maneira livre, sem as formalidades do início - que eu ainda não aprendi a apreciar. Modernistas a exemplo de Osvaldo de Andrade, as fizeram arbitrariamente. Vinícius de Moraes pautou suas baladas no meio termo, obedecendo parte da forma fixa, compondo excelentes poemas (ao meu gosto); uma das que aprecio, intitula-se BALADA DAS MENINAS DE BICICLETA.
    Para testar minha verve anã e pachorra, gigante, compus um arremedo de balada dentro das formalidades, evidentemente com erros que meu saber não alcançou para corrigi-los. Espero que esse exemplo, mesmo sem poesia, sirva para elucidar os leitores ao exemplo do tema, e confesso que a empreitada me serviu de exercício “anti-alzheimer”. Portanto: Dever cumprido!... Apesar de não querer molestar o leitor – espero que gostem.

BALADA À CAROLINA  

Enxerguei a Colombina
Em trajes preto e amarelo
Com certo olhar de grã-fina,
Mas de um sorriso tão belo
Que a sua aura ilumina
Este Arlequim sonhador.
Prende-se a minha retina
E à alma plena de amor.

Nós dançamos. Por rotina,
Dançou ela. Em paralelo
Eu namorava a menina
Com a paixão que revelo
Ter pensado até ser sina,
Pois seu olhar sedutor
Misturou-se à serpentina
E incendiou-me de amor.

Sem a máscara malina
Vi a flor, cujo labelo
Em lábios se descortina
Como os de um anjo singelo,
Dando o nome, Carolina,
Feita uma mulher em flor
Ou flor humana e divina
Qual ramalhete de amor.

Carolina, por favor!
No Carnaval és a amada,
Sê amante! A rigor
Tu és a minha alvorada.
São teus meus raios de amor!