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Quase finda a safra da
tainha do corrente ano no litoral de Santa Catarina, a cobiçada ova desse peixe,
em que a escassez elevou o preço aos mais altos níveis do patamar costumeiro, dá
os últimos estertores de ocorrência. Nosso caviar brasileiro é apreciadíssimo, sobretudo em
forma de botarga – processo quando a ova é tratada. Instante em que se retira o sangue para então salgá-la e desidratá-la em estufa e assim ser levada ao sol por até um mês, ficando própria ao consumo. Depois de pronta, é iguaria sem-par
aos paladares refinados, principalmente na Itália, país de grande demanda importadora
do nosso produto.
A técnica de preparo de ovas secas tem origem no Egito, há mais de três mil e
quinhentos anos. Partindo de pescadores artesanais, a ova é consumida preferencialmente frita acompanhada da farinha de mandioca. Como
petisco, costuma-se degustá-la apenas frita, bebendo uma “loira gelada” (cerveja) ou
vinho.
Na cidade de Florianópolis foi fundada em 1857, pelo Imperador Dom Pedro II, a Escola de Aprendizes-Marinheiros
de Santa Catarina, na qual preparam jovens, em regime de internato, para o serviço à nação.
Em certa época, seu João um grande marinheiro, depois de aposentado, optou pela
profissão de motorista de taxi. Na função, após conhecer o mundo viajando em navios nos quais serviu à Marinha do Brasil, queria conhecer melhor sua cidade natal, externava ele. Era um homem
falante e contador das histórias vivenciadas. Cativante na fala
mansa, pausada e comedida de um velho marujo cauteloso que não embarcaria em escaler furado.
Como engenheiro fiscal da Agência Caixa Econômica Federal, tive a oportunidade de ter os serviços de seu João a
serviço de minha função, por ocasião em que a Caixa o contratou para traslados em minhas vistorias de imóveis sob hipoteca daquela entidade financeira... Ouvi
muitas histórias, mas uma, a da ova de tainha, eu deixo aos “experts
da área” para que avaliem a veracidade. Reforço que João não foi pescador, e sim marinheiro.
Contou-me ele,
que seu navio atracou em porto determinado onde a safra da tainha estava no auge da fartura. Houve um convite aos oficiais do comando da nave para a festa local em que a
ova de tainha com cerveja não tinha restrição à demanda gratuita. João juntou-se aos convidados
a serviço de um oficial, mas com direito apenas a comida, degustando algumas ovas e postas de tainhas fritas e o peixe na brasa. Os festejos estenderam-se das
onze da manhã até ao cair da tarde, com ele sóbrio e a maioria levemente alterada
pelo trago etílico.
Segundo João, ficou na memória o maior dos fatos que aconteceu com um jovem
tenente de origem nordestina do Brasil, que se encantou pela ova frita. Não parava
de repetir o acepipe saboroso. A ova oleosa, embora se pareça seca à deglutição... Ao fim da tarde, observaram no traseiro da farda branca do tenente, conforme suas
idas e vindas ao banheiro para descarregar a destilação do líquido, uma enorme
mancha amarela oriunda do óleo de peixe escorrido do intestino do eufórico glutão, sem que ele notasse o escapamento espontâneo. Os colegas tiveram de arranjar
uma calça limpa ao desavisado e obrigá-lo a forçar a evacuação da excedente matéria,
ao que confessou a vítima, após o procedimento, ter sido o produto
resultante – puro óleo.
Acabo por ser mais "salada de polco" mas também gosto do petisco da ova de peixe, apesar de achar que não é servida fria, mas sim cozida.
ResponderExcluirEm todo o caso, achei a história e o texto extraordinários e já ouvi falar muito bem de Florianópolis, Abraço
História engraçada, coitado do marinheiro.
ResponderExcluirNão gosto de ovas, não corro esse risco :))
Gosto de todo o tipo de ovas.
ResponderExcluirUm risotto de lagostim com ovas de peixe continua a ser o melhor petisco que alguma vez comi.
Aquele abraço, bfds
E bravi Silo, la storia è veramente divertente, e ci fa un po sorridere!!!
ResponderExcluirCiao e buona giornata con un forte abbraccio e un sorriso:-)
Tomaso
rsss, rica história muito bem contada, coitado do homem.
ResponderExcluirNunca comi ovas de tainha, até vou procurar por aqui, será que existe em terra de gaúcho? Mas vai valer a procura.
Grande abraço, Laerte, um ótimo fim de semana!
Ovas de peixe, são petisco de primeira. Quem dera que a poluição não destruísse tanto este meio aquático onde vivem e se reproduzem.
ResponderExcluirCá na região, as de Sável andam á frente.
Abraço
SOL
Olá Laércio! Que situação...Quando se trata de peixes e frutos do mar há que se ter muita cautela com qualidade e quantidade. Os petiscos são uma tentação, ainda mais acompanhados de umas cervejinhas geladas.
ResponderExcluirAdorei o texto, abraço!
Bonjour,
ResponderExcluirJe ne connaissais pas cette histoire... En ce qui me concerne, je ne suis pas très friande d'oeufs de poisson.
J'aime beaucoup les crustacés...
Bien sûr que les bons produits sont à privilégier.
Merci pour votre adorable passage sur mon blog. Merci aussi pour vos bons mots.
Gros bisous
Ri-me com o comentário da Taís...
ResponderExcluirCalculo que sejam muito saborosas.
Porém, ovas são quase colesterol puro, o fígado tem dificuldade em processar.
Na minha região apreciam-se comer frescas, em saladas frias mediterrânicas... Devem-se comer ocasionalmente.
Por aqui, há um provérbio que diz: pela boca morre o peixe, neste caso, por culpa do peixe.
Dias aprazíveis e condimentados com preceito.
Abraço, Amigo.
~~~
Muy bonita información sobre las huevas de salmonetes, y graciosa historia que cuentas del pobre glotón, :))).
ResponderExcluirUn placer la lectura Laerte.
Un abrazo.
No los comí nunca así que no puedo opinar si son sabrosos o no.
ResponderExcluirSaludos.
Excelente relato, Laerte.
ResponderExcluirAs ovas de peixe, quando bem confeccionadas, podem ser um óptimo petisco; claro, com conta, peso e medida, para não acelerar a dinâmica peristáltica, ainda que o resultado, neste caso, tenha sido apenas "puro óleo".
Um abraço e uma semana tranquila.
Muito boa a sua narrativa. Coitado do João Marinheiro. Que coisa embaraçosa!
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo.
Gosto muito de ovas . Já comi de vários peixes , de tainha não .
ResponderExcluirQuanto à narrativa está excelente .
Um abraço e agradeço a visita ,
Maria
De repente pensei que fosse um doce, depois vi que eram ovas ahahah!!!
ResponderExcluirUm abraço.
Muito bom :))
ResponderExcluirCom as férias em "banho maria"...já sentíamos saudades vossas e resolvemos dar notícias, até porque, merecem toda a nossa consideração. Esperamos que estejam todos bem.
.
Do nosso querido poeta, Gil António -Amor livre, sem amarras
Bjos
Votos de uma óptima Terça-Feira
Já comi ova de diversos tipos de peixe, não sei se de tainha, porém gostei de todas. Belo relato! Parabéns!
ResponderExcluirAbraços,
Furtado
História muito engraçado.
ResponderExcluirDeve ser bom, nunca comi
Beijinho grande
Interessante... Nunca comi, mas fica a dica...
ResponderExcluirObrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Caro Poeta: O poema de ontem, no nosso Brincando, é de autoria do Gil António. Eu apenas ajudei nas visitas por falta de tempo da parte dele.
ResponderExcluirAgradeço o seu poema onde menciona o meu nome, mas o poema é do Gil.. Se puder rectificar ficaria feliz. Desculpe
Bjos
Grazie per essere passato da me, con la tua bella poesia. Buona giornata.
ResponderExcluirQuando ultrapassamos as nossas medidas, não podemos esperar bons resultados. E esse óleo é mesmo forte.
ResponderExcluirFica o aviso para quem se perder nas o ovas de tainha.
Beijinhos, amigo Laerte.
Acho que nunca comi ovas de taínha. Por isso, não corri o risco do militar...
ResponderExcluirUma história interessante.
Caro Laerte, continuação de boa semana.
Abraço.
Laércio meu amigo,
ResponderExcluir"Petróleo" escorrendo pelo intestino do eufórico glutão, tingindo o fundilho da calça do mesmo, é algo perturbador só de imaginar!!! 😂😂😂
No mas, a narrativa é toda muito interessante!!!
Um abraço!
Douglas
Bom dia, prezado amigo Laerte!
ResponderExcluirMuito obrigada pelo poema lindo que deixou no "Rol de Leituras". Amei! Com versos seus o Rol ganhou outro brilho.
(Quanto às ovas de tainha, hum, vou fugir delas!)
Abraço, bom domingo.
Nunca comi ovas de Tainha.
ResponderExcluirMas a história até que é interessante e fartei-me de rir.
beijinhos
:)
Passando para regar nossa amizade,
ResponderExcluirque mesmo sendo virtual é muito importante.
Pouco importa saber
em que parte do mundo
nossos amigos se encontram,
se podemos sentir na alma
que dentro de nós e dentro deles,
há um espaço reservado que nada mais
poderá preencher. Talvez por serem tão raras,
amizades verdadeiras são
como tesouros preciosos
que devemos tentar
manter a vida toda.
feliz domingo
Abraços da amiga Lourdes Duarte
Parabéns aos pais pelo seu dia!
Olá, Amigo Laerte
ResponderExcluirConfesso que nunca tinha ouvido falar dessa especialidade, a ova da taínha, tratada e feita acepipe. Na minha terra não é muito apreciada a taínha, mas acredito que assim preparada é de comer e chorar por mais. E facilmente se chegará à situação do "jovem tenente", com a tal mancha nas calças, necessitando de urgente procedimento para "forçar a evacuação".
Adorei a sua crónica e, claro, ri-me com gosto do seu final.
Abraço
Olinda
Muy buena crónica sobre las delicias de un plato de origen marino, el salmonete, que debe comerse, acompañado para bajar la grasa, de lo contrario puede darse la situación no deseable, pero risible, del glotón oficial marino, dándose el suculento banquete, sin el apoyo de la cerveza como pasante. UN abrazo. Carlos.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOvas de bacalhau... aprecio imenso, por exemplo!...
ResponderExcluirConfesso que desconhecia essa especialidade de ovas de tainha... adorei ficar a conhecer a história, que certamente, será das mais engraçadas, associadas a tal petisco!...
Beijinho
Ana