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No ano de 2018 ocorreu o 270º aniversário da chegada dos primeiros Açorianos em Santa Catarina, que partiram do Atlântico Norte, em 21 de outubro de 1747, e chegaram ao Brasil em fevereiro de 1748 para tomar posse do solo e povoar parte do território brasileiro. (obs. Eles chegaram em seis de janeiro, mas permaneceram a bordo, de quarentena e desembarcaram em vinte e dois fe fevereiro.) Apesar disso, a cultura lusitana exclui os termos migração, tendo esse deslocamento humano como uma redistribuição de habitantes de uma mesma nação, a territórios diferentes – muito comum é o termo "diáspora" a evocar a dispersão do povo judeu.
Conforme consta na história, o Arquipélago dos Açores fora "encontrado" por navegadores portugueses em meados do século XV, anos antes de “descobrirem” o Brasil e começarem a explorá-lo. Deram-lhe nome de Açores, devido aos bandos de aves que sobrevoavam as ilhas, pássaro que confundiram com o açor, uma espécie de gavião do mar. Mais tarde foram entender que os bandos não eram de açores e sim de milhafres, mas pela denominação formada, o local se manteve por Arquipélago dos Açores.
Ao habitar o novo mundo, a corrida exploratória entre Portugal e Espanha às novas terras tornou-se intensa. Os espanhóis optaram em agir pela força; os portugueses pela força e um pouquinho de esperteza, já que Açores mergulhava em problemas, ao ter suas nove ilhas superlotadas e tomadas de assalto por diversas etnias. Uma delas, a Faial, atingida por uma erupção vulcânica de grande magnitude, obrigou-se a despejar seus habitantes para as ilhas vizinhas, o que estabeleceu o caos, gerando a falta de comida, miséria, prostituição e fome, pois suas fontes de subsistência como a produção de trigo e da planta do pastel (espécie usada como corante azul em tinturaria) estavam em escassez.
No intuito de resolver o problema, o brasileiro Alexandre de Gusmão, ministro do Rei de Portugal, que vinha negociando o plano do Tratado de Madrid na definição de limites entre as terras descobertas, participou do estudo e concepção da tomada de posse das terras brasileiras pelos portugueses. Para tanto, optou pela ocupação do solo que asseguraria o direito de propriedade, frustrando o sonho espanhol em dominá-lo, conforme vinha fazendo com seu pouco pessoal. Além disso, o brigadeiro português José da Silva Paes mantinha as construções de fortificações e idealizava maior população à Ilha de Santa Catarina, como um entreposto a outros portos ao sul. E, tão logo agravado o problema açoriano, fomentaram migração de habitantes portugueses para o Sul do Brasil, sendo a maioria de etnia não lusa continental. Alguns de ancestralidade holandesa – basta ver os de olhos azuis, açorianos aqui encontrados. Os continentais, principalmente do Porto, não vinham ao Brasil para serem empregados como trabalhadores nos campos. Eles permaneciam nas cidades, servindo pequenas indústrias ou na aprendizagem no comércio.
O edital emitido por Sua Majestade o Rei de Portugal, proclamava regras que estabeleciam doações enumeradas de diversos bens e objetos aos trabalhadores, para as atividades nos campos – uma pá, uma enxada, um machado, uma espingarda, uma vaca leiteira... Quando aqui chegaram, receberam da listagem insignificantes apetrechos e tiveram de lidar com o suor e a criatividade, estreitando laços com os indígenas e deles tomar hábitos à própria sobrevivência.
As sementes de trigo que trouxeram, em razoável quantidade, não se adaptaram às condições do solo, altitude e clima. E para sobreviver foram se reinventando, agregando às suas práticas culturais e de produção, as técnicas aprendidas a partir do convívio com a população negra e indígena. Do negro, além da mão-de-obra, parte essencial na economia, agregaram costumes e adaptações à fala que influenciou a cultura local, além de adotarem as festas e as danças. O cultivo da mandioca, ao ser observado na cultura dos indígenas, fora associado a uma produção mecanizada à obtenção da farinha de mandioca, com os engenhos que conceberam em projetos e os construíram. O açoriano assimilou do índio Carijó o aprendizado da confecção de cestaria em hastes de taquara ou bambu e cipó, aperfeiçoando o feitio de balaios e do covo para captura de peixes e lagostas, além da confecção de armadilhas à caça, como o mundéu, a arapuca, a esparrela, o laço e o alçapão falso. Construiu igualmente, à moda indígena, a canoa escavada num único tronco da gigante árvore garapuvu, com a qual se fazia ao mar. Mais tarde, para produção de embarcações maiores, usaram projeto de lanchas baleeiras munidas de tábuas vergadas sobre o cavername. Nas as cordoalhas de pesca era usada a corda em cânhamo e a do sisal e para o tecido de tear, o algodão produzido in loco.
Os portugueses continentais, quando casados, principalmente do Porto, vinham ao Brasil sem suas famílias, a tentar a vida para trazê-las posteriormente. Muitos deles casavam-se aqui e por aqui ficavam.
A luta pela sobrevivência em um dos lados sombrios da imigração, em meados do século XIX, talvez tenha sido a prostituição nos grandes centros como do Rio de Janeiro quando, muitas vezes, a falta de mulheres era suprida por rapazes, por alguns comerciantes portugueses ao se utilizarem dos “serviços” de jovens compatriotas portugueses. É o que descreveu Amilcar Filho. "Tornou-se tão intensa essa prática que o Cônsul de Portugal, barão de Moreira, em 1846, por cartas, providenciava a importação de muitas mulheres dos Açores para substituir a prostituição masculina".
Achava-se que o povoamento açoriano terminara em 1807, conforme consta, mas em meados do mesmo século chegaram muitas mulheres açorianas, várias delas destinadas aos prostíbulos do Rio, Bahia e São Paulo, não chegando ao Sul do Brasil; o que após um tempo foi proibido. Ramalho Ortigão, em seus registros, afirma que se "passou a alertar a permissão da saída, somente de raparigas acompanhadas de familiares, já que os Açores era a parte do país que exportava maior quantidade de mulheres e trabalhadores do campo". Com a proibição houve, mais tarde, a importação de prostitutas judias, polacas e das famosas francesas. Entre diversos relatos sobre os colonizadores, consta o de uma família escandinava que migrou da Noruega para os Açores, em embarcação própria. Dos Açores, os modernos vikings seguiram a Fortaleza, norte do Brasil e alguns de seus descendentes, anos depois, partiram de Fortaleza à Ilha de Santa Catarina com uma jangada de manufatura construída pela própria família. Um de seus descendentes de sobrenome Gondin, em meados de 1800, foi provedor da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos na antiga Desterro. Em 1942, outro descendente da família, Nilson Vasco Gondin (meu amigo e colega de trabalho) alistou-se como voluntário combatente à Segunda Guerra Mundial, desembarcando em Nápoles em 1944, já promovido a sargento da Força Expedicionária Brasileira. Gondin foi um dos militares brasileiros (um ilhéu catarinense) que deu combate no campo de batalha em diversos assaltos como a tomada de Monte Castelo, Castelnuovo, Montese e Zocca, desalojando sangrentamente os alemães encastelados em picos de altos morros. Sendo que nosso herói retorna da batalha, após ter sofrido ferimentos leves por estilhaços das granadas de morteiros do fogo inimigo, recebido em terra natal como herói de guerra, condecorado inúmeras vezes.
*Um pouco da história de Gondin e outros importantes combatentes, consta no meu livro (romance) “Um Soldado à Liberdade”
Fontes históricas: obra “As
Farpas” - 1872 tomo X de José Duarte
Ramalho Ortigão.
“Tríbades Galantes,
Fanchonos Militantes” de Amilcar T. Filho.
“Liberdade Escrita com Sangue” de Nilson Vasco Gondin.
ANIVERSÁRIO DA COLONIZAÇÃO AÇORIANA
NO LITORAL DE SANTA CATARINA
A História era péssima :)) Gostei de ler
ResponderExcluirHoje:- Saudosa Viagem...
Bjos
Votos de uma boa noite
Por vezes é diferente ler a história desse lado :)
ResponderExcluiros portugueses são em grande parte descendentes dos Celtas;
muitos "escureceram" quando houve a miscigenação no continente, com a chegada de grande quantidade de escravos que se misturaram com a população local à medida que grande número de portugueses eram enviados para os territórios que eram descobertos
os portugueses tinham um alto nível de conhecimento
Coimbra a sua universidade e os seus 27 colégios religiosos eram em certa altura, o maior conjunto universitário do mundo
por aqui passaram milhares e milhares de estudantes do continente mas também os filhos dos colonos já nascidos nos territórios de além-mar, o que, juntamente com as ligações das famílias que se criavam entre os portugueses (as) e as tribos indígenas, "tecia" laços duradouras entre as regiões do império
nenhum povo terá construído tantas cidades e tantos monumentos por esse mundo fora, com um numero de habitantes tao limitado, pois como foram descobertas ainda com um pé na idade média, acreditava-se que era um destino divino, ... Daí que pouco trouxeram para o continente, acreditando que as terras eram suas por vontade de Deus e para a eternidade...
ofereço:
https://www.youtube.com/watch?v=pZXpeZdlvOA
Grupo Fólclórico da Praia Cantando Os Bravos
grande abraço
Angela
Apreciei muito a partilha, assim como o comentário da Ângela.
ResponderExcluirA História nunca foi e será objetiva. Por isso é importante ler várias fontes.
Bjinho Laerte
O bom é saber que a história sempre vem acrescentar informações. “As Farpas” de Ortigão e Eça de Queiros está como as peculiaridades que Oswaldo Cabral nos revelou em suas descrições sobre o dia a dia dos ilhéus. Informam da realidade vidada numa sociedade em que nos deparamos com acontecimentos que ainda parecem atuais (diferente roupagem). Povos de corragem e crentes na mudança, que aqui se instalaram e com muita luta, exploração e terríveis sofrimentos, conseguiram fazer sua história e deixar marcas de grande valor. Abçs Laerte
ResponderExcluirEstamos sempre a aprender.
ResponderExcluirAquele abraço
Muito lindo Laerte. Um texto que nos mostra aquilo que nem sempre lemos, algo que conhecemos vagamente em poucos textos escolares, a de um povo valoroso que meio a promessas, não bem cumpridas, teve a humildade de aprender e duplicar as técnicas de trabalho e produção para fazer história no novo mundo. Pessoas, que os registros mostram, vieram em busca de riquezas na esperança de melhores condições de vida, e que aqui encontraram, como tantas ainda encontram em diferentes espaços, o sofrimento e a humilhação, mas que conseguiram imprimir seu registro que hoje é parte permanente na cultura de um povo.
ResponderExcluirGostei de ler e já sigo.
ResponderExcluirBeijinhos,
Melissa Sousa | Fábrica de Temperos
OLÁ PRIMAVERA 🌸
Amigo, embora não tenha sido oficialmente legalizado, o dia 20 de março, desde 2004 que comemora-se como sendo o dia do Blogueiro ou da blogueira.
ResponderExcluirComo gosto de comemorar dadas em especial aquelas que acho bem merecidas, hoje, vim aqui parabenizar você por ser esse profissional da blogsfera competente, criativo e que com muita responsabilidade mantem o seu blog.
Parabéns por ser esse blogueiro maravilhoso que nos encanta com suas postagens.
Abraços da amiga Lourdes.
Tem postagem e tem selinhos comemorativos nos meus blogs.
Bela partilha, nos traz muito bom conhecimento!
ResponderExcluirUm grande abraço.
Olá amigo!
ResponderExcluirEu sou formado em História, mas a vida me afastou da profissão de professor.
Mas como historiador eu adoro ver esses fatos escondidos ou mal contados, que com o passar dos anos acabam vindo à tona.
Na verdade meu amigo, eu cheguei à conclusão de que ninguém sabe nada de nada, históricamente e filosóficamente falando.
A gente conhece alguns fatos, segue algumas pistas, estuda aqui e estuda alí, mas a verdade mesmo, é apenas uma questão de ótica e entendimento.
Desculpe por escrever tanto, mas é que seu texto me inpirou a entrar nesse assunto.
Um abraço!
Gostei de saber.
ResponderExcluirNão conheço os Açores, mas faz parte da minha lista de locais a visitar.
Abraço
Que interessante... Abraço.
ResponderExcluirIrei visitar, se Deus quiser, já paguei a viagem, os Açores em Julho próximo. Gostei muito desta aula de conhecimento
ResponderExcluir.
* Poema escrito em letras virgens. *
.
Abraço poético
Belíssimo seu post Laerte. Felicitações meu amigo!!!
ResponderExcluirBoa noite Laerte,
ResponderExcluirLi várias informações
nesse texto, que
eu desconhecia...
Muito bom!
Abraço \o/
Uma interessante lição de História.
ResponderExcluirAlguns dos aspectos focados eram-me desconhecidos.
Bom fim de semana, caro Laerte.
Um abraço.
Muito interessante. Gostámos muito do que lemos por aqui.
ResponderExcluirConvidamos-vos a ler o capítulo VI do nosso conto escrito a várias mãos "Voar Sem Asas"
https://contospartilhados.blogspot.pt/2018/03/voar-sem-asas-capitulo-vi.html
Saudações literárias
Um post extraordinário, excelente partilha.
ResponderExcluirBom fim de semana
Um abraço
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
obrigada, Laerte pela excelente aula de história, fazendo-me lembrar pormenores, que já tinha esquecido, visto que professor não sabe tudo e alg. coisas vão esquecendo.
ResponderExcluirpois, qto a colonização, Portugueses e Espanhóis atuaram, de forma diferente. nós, talvez mais trapalhões e os espanhóis mais agressivos.
pois é, quem não tem cão, caça com gato, se diz por cá e assim os instrumentos e técnicas tiveram de ser adaptadas a esses solos, clima e culturas.
bem, homi - rs não pode passar sem mulher, pelos vistos. se não há prostituição, entre eles, se resolvem, mas não é bem a mesma coisa, portanto vá de mandar dos açores para o brasil, mulherio.
a História não é uma ciência exata, e portanto quem conta um conto, lhe acrescenta um ponto. tenho formação académica superior em História e mto do k aqui tu descreveste é pura verdade. não eram açores, aves, mas sim, milhafres e outros aspetos, tb.
abraços e bom final de semana.
O comentário da Angela está impecável.
ResponderExcluirHá por aí Dutras em todos os estratos sociais, culturais
e ideolóicos...
Espero não ter havido nenhuma ovelha negra...
Um famoso historiador de Portugal atribuía a açores uma
evolução da palavra azure que significa azul...
Com efeito,as ilhas vistas de longe, apresentam frequentemente
uma tonalidade azulada...
Essa do açor, foi resultado cultura popular de mau gosto,
apoiada por quem pretendia votos nas urnas.
Dias agradáveis e felizes.
~~~~~~~~~~
Oi querida amiga, não te preocupes que os Dutras, por cá, foram e são todos "dutrabalho", não consta alguém "dutrambique". Grande abraço. Laerte.
ExcluirLaerte, o que eu aprendi consigo e com a Angela.
ResponderExcluirObrigada a ambos!
Dou nota 10 a esta lição de História. Venham mais, a colonização portuguesa dá "pano para mangas".
Beijo e boa semana.
Excelente crónica.
ResponderExcluirTe dejo un abrazo grande.
Quanta inspiração, Silo! Adorei o poema que deixou no meu blog.
ResponderExcluirObrigada.
Um abraço.
A história é um bem precioso
ResponderExcluirMerecendo a melhor atenção
E nos mostra o cariz orgulhoso
Dos que deram sua participação.
Abraço
Laerte, passei para desejar uma Páscoa muito Feliz
ResponderExcluirUm abraço
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Antes de mais deixo a minha gratidão pela visita adicionada de tão simpático quanto honroso comentário do caro Laerte no meu receberedar.
ResponderExcluirJá quanto ao mais, agrada-me desde logo a multifacetada vertente deste seu SILO LÍRICO, ainda que com especial destaque para a sua muito profícua veia poética. No relativo à sua crónica histórica acima, com tudo o que os relatos históricos contenham de entre objectivo e interpretativo ou ainda de entre imparcial e parcial, no presente caso diria que me foi surpreendentemente reveladora de factores históricos que eu desconhecia enquanto tais, em especial no relativo às especificidades da emigração Açoriana para o Brasil.
Obrigado por tudo, já estou seguidor do Silo Lírico
VB
Olá amigo Sírio, hoje fiz uma postagem do lançamento de um livro de um jovem escritor filho de amigos, que atualmente estuda em Lisboa Portugal e lá lançou seu primeiro livro , impresso pela Ed CHIADO.
ResponderExcluirVeio para sua terra natal, bom jardim e aqui aconteceu o lançamento. Estou prestigiando pois vi crescer e hoje é um jovem Engenheiro Agrônomo se especializando e poeta.
O link da postagem.
https://professoralourdesduarte.blogspot.com.br/2018/03/lancamento-do-livro-viva-em-versos-4.html
Ficarei grata com sua visita e incentivo.
Beleza rever esta aula de História, um aguçar de lembranças do tempo de colégio. Adorei, adoro história e Geografia!
ResponderExcluirAbraço e votos de feliz semana!