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domingo, 22 de setembro de 2024

PRIMAVERA (de primo vere - o primeiro verão}

 

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Sempre que chega a primavera o meu coração se alegra sem que eu saiba por quê. Hoje o sol nasceu em uma atmosfera límpida abrasando um vergel ainda acinzentado. O sabiá de peito amarelo e garboso cantou seu hino à flora, degustando as primeiras ervas, insetos e frutos primaveris. O mar com mais brilho aparentava indiferente, porém o céu refletido nele parecia mais próximo em que as trombetas angelicais ecoavam no marulhar dele que mansamente emitia, meio rouco, sons maviosos para acalmar a minha mente e deixar que eu fosse só anímico com o raciocínio frouxo e de alma atenta. A minha sensação andava entre serafins ou faunos que me acenavam do vergel, ora, mais verde com a luz solar que dissipara o cinzento. Não sei se nessa hora a minha sensação tocou em Deus, mas eu senti a santidade refletida ao mar, então, dourado. E foi nesse momento de um feixe de luz iluminar-me a mente que desperta por segundos, fez-me entender que hoje começou a primavera no hemisfério Sul. 

PRIMAVERA 

Chegou a primavera e a flora aflora

Com flores feito fatos fiéis a ela,

Em que o verde e a cor beje-amarela

Faz o vergel dourado. A luz o cora.

 

Tudo é beleza e, quando nasce a aurora,

A passarada canta, à luz singela,

Numa alvorada doce e se desvela

A fauna, a flora e a noite – foi-se embora.

 

Por isso a primavera é a estação

Mais desejada das quatro, em questão,

Pelo que oferta aos seres, sendo bela.

 

A mim ela me toca o coração.

Na primavera tenho a sensação

Que sou só alma, sem mente ou razão.

sábado, 15 de junho de 2024

A TRÁGICA ENCHENTE NO RI0 GRANDE DO SUL

 Tom Jobim tem uma música de refrão que diz assim: “São as águas de março fechando o verão / É a promessa de vida no teu coração”...  Realmente, após o verão vem um copiosa chuva no Sul do Brasil, porém este ano a chuva checou em maio com grande intensidade inundando o Sul da região brasileira e particularmente, todo o Estado do Rio Grande do Sul, deixando grande parte do Estado gaúcho em baixo d’água. 

Em solidariedade ao povo gaúcho fiz dois poemas sobre a tragédia de grande repercussão. E, os posto neste espaço. 



RIO GRANDE DO SUL 
Autor: Laerte Tavares Titular da cadeira 16 

Academia Catarinense de Letras

 

Ah, meu rincão e meu pago pelas chuvas inundado.

Que triste ver meu Estado como a imensidão de um lago

Para onde olho e divago vendo um corpo flutuar.

Viria de que lugar?... Deixou lá seu amor e sonho?...

Um pesadelo medonho se passava de vagar.

 

Vendo um corpo que flutua e sentir ser corpo humano, 

Rugiu no meu peito, insano, o antigo tigre charrua

Quando do meio da rua, corri bramindo também 

Qual tigre macho que tem amor pela sua raça. 

Senti Deus dar-me a graça e a força vinda do além. 

 

Pulei n’água e já ao lado daquilo vi um menino. 

Meu Deus, que triste destino... Voltei arrastando, a nado, 

O seu corpo enlameado. Ele exalava mau cheiro. 

Nisso, um soldado bombeiro o rolou para uma maca 

E erguendo uma ponta, o ensaca para o pelotão coveiro. 

 

No meu peito, mais bramia o velho tigre acuado...

Voltei para a água e a nado, parecendo estar mais fria, 

Subi num bote que ia apenas com seu patrão.

Completando a guarnição com um cachorro que nadava 

Desesperado e rosnava de fome e frio. Pobre cão!...

 

Já o chamamos raposo, pela inteligência rara,

Porque o animal ficara de pé, em perfeito gozo 

Das facultardes. Teimoso, punha na borda, à beira, 

Uma pata dianteira, ia observando tudo 

E completamente mudo, latindo àquilo que cheira. 

 

Depois vimos batalhões de gentes salvando vidas.

Atrelamo-nos às lidas no meio de embarcações

Levando seres, em ações de resgate e suprimento

De água, nesse momento do fim de uma privação

Dela e da alimentação, sentido o corpo sedento.


Gente do Brasil inteiro ajudava a região, 

Povo solidário, irmão do gaúcho. O brasileiro 

Foi sempre um povo guerreiro, solidário e o é ainda. 

Formava uma cena linda ver o enorme contingente 

Voluntário ali presente dando uma ajuda bem-vinda. 

 

E o gaúcho humildemente agradece a esse povo 

E agradecerá de novo por devedor, pois se sente 

Honrado pelo vigente socorro de improviso  

Ante o sinistro incisivo arrasando o meu rincão

E empenha a gratidão pelo socorro preciso.

 

São mil falanges de gentes, seres de todas as plagas 

Que estão aplacando as chagas de seus irmãos, descendentes 

Charruas e de contingentes de outros povos estranhos 

Que criaram aqui rebanhos de gado e com a agricultura 

Fizeram a vida futura com seus trabalhos e ganhos.

 

Nas veias de um riograndense pulsa o sangue farroupilha, 

Povo que brilhou e brilha pois sempre que luta vence 

Por tradição que pertence aos nossos ancestrais, 

Bem antes de nossos pais que eram povos destemidos,

Guerreiros dos tempos idos, cavaleiros magistrais .. 

 

Por isso a alma gaúcha é forjada para a luta 

Quer na guerra ou na labuta em que o corpo se estraboucha

Fazendo de uma garrucha, um canhão ou um morteiro, 

Tendo a alma de guerreiro e o coração de menino 

Que por atavismo ou tino é sempre um bom companheiro.

 

E, assim, o Rio Grande é forte, pois esmorece jamais 

Luta pelos ideais de sus filhos e de sorte 

Que eles enfrentam a morte na luta com destemor 

Por intrépidos e amor à pequenina nação 

Com herança na tradição da peleia de valor.  

 

Meu povo, erga a cabeça! O bom combate enobrece. 

Reza a Deus a tua prece, olhe a vida e não esqueça 

Que endireitar vida avessa é difícil, dá trabalho,

É um ferro frio no malho que resiste, mas entorta 

E Deus não fecha uma porta sem que abra um novo atalho.

 

Vamos a reconstrução do que a enchente deu fim

Com alma de um serafim e coragem de um leão 

Juntando forças que são necessárias ao sucesso 

Baseadas no progresso de nosso Estado pujante 

Ora, vendo=se diante de um cenário adverso. 

 

Se lutar é da cultura de nosso povo farrapo 

Que se vestia com um trapo enfrentando guerra dura, 

Nós, nessa paz segura como iremos fraquejar 

Ante a luta singular de reconstruir a vida?...

Vamos, meu povo, à lida e reconstruir cada lar.

 

O orgulho virá mais tarde como a rosa da manhã 

Que medra perfeita e sã no silêncio, sem alarde, 

Se o povo não é covarde, há de bater em seu peito 

E gritará satisfeito na paz da vida refeita 

Vendo que a antiga receita foi eficaz no efeito.

 

Gaúcho é um galo de rinha, muito valente em combate

Pois não desiste ou se abate nem verga a sua espinha 

A tirano ou a rainha de paus, no jogo de cartas 

Por ter as entranhas fartas das tradições dos charruas 

Montados em bestas nuas tendo as pernas por lagartas.  

 

Viva a alma farroupilha!! Viva o Rio Grande do Sul!

Viva o céu límpido e azul! Viva essa maravilha 

De Estado que palmilha na luz da ordem e progresso 

Viva o orgulho pregresso de um povo forjado à luta 

Viva a fé absoluta do gaúcho, em seu processo!



O GAÚCHO AGRADECE A QUEM OS SALVOU 

NAS ENCHENTES DO RIO GRANDE DO SUL

Autor: Laerte Tavares 

Titular da cadeira 16 da ACL

 

O gaúcho é um galdério ou folgazão contumaz

Que adora um trago e a paz. Não a paz do cemitério,

Mas a do amor sem mistério. Com a chinoca na garupa

Do pingo, e no upa, upa, a cortar campo e coxilhas,

Em trote, léguas ou milhas, chega ao galpão que ocupa.

 

Ali, com o poncho estendido, ateia o fogo de chão,

Seva e serve um chimarrão, como a flecha do cupido,

Que é muito bem recebido pela prenda, ao tear

Urdindo, em lã vulgar, um bacheiro à serventia  

Do peão em montaria para o arreio de laçar. 


E se despede, o peão, entre fusos e novelos 

De lã, pega o peúelos, o revolveer, cinturão,

Um sovl, faca, facão, e aacostumado no trampo, 

Segue à lida de campo, com o pingo já encilhado, 

E corre em busca de um gado na invernado do grampo.

 

No feroz fogo da guerra, o gaúcho foi forjado

Feito o aço temperado nas lavas fundas da terra

De certo vulcão que encerra, se inativo, o seu moral

Em pressão descomunal, pronto em irromper à luta

Com a fé mais absoluta que vencerá no final.

 

Se o riograndense é galdério, também é amigo nato

Muito festeiro, de fato. Se tem a cara de sério

É um sinal do cautério ou cicatriz que encerra

Seu histórico de guerra. Sempre de pingo encilhado

Pronto, por fiel soldado em defender sua terra.

 

Cara de mau em rompante, dizem que o gaúcho tem.

Não é verdade, porém, se estampa ar arrogante,

É a altivez do infante destemido, por forjado

Na têmpera do fiel soldado com ar de certa altivez

Inevitável, talvez já estigmatizado.

 

Porém eu gaúcho nato aprendi que sou ninguém

Pois tudo que a gente tem, não é nosso e fico grato

A quem nos salvou, de fato, com riscos das próprias vidas

Nas atribulações tidas em resgates arriscados

Às vezes sobre telhados com telhas apodrecidas. 

 

Primeiro a equipe civil foi que acudiu prontamente

Com barcos, meios e gente de todo o imenso brasil.

Povo heroico com perfil benévolo e aguerrido,

Cujo esforço desmedido e concentrado, deu fim

À angústia e assim fico muito agradecido.

 

Vivas às forças civis em tempo mobilizadas

E muito bem equipadas! Sendo uma força motriz

Providencial que quiz, então, voluntariamente

Socorrer a nossa gente por humanismo, em ações

De helicópteros e aviões em toda urgência premente. 

 

Eram botes e bateiras, jet skis, depois canoas

Que acudiram pessoas ilhadas, foram as primeiras

Embarcações. Baleeiras só mais tarde e nos rios,

Fazendo amplos desvios pelo calado profundo

A não encalhar o fundo, mesmo de porões vazios.

 

Estamos muito contentes com o socorro imediato 

Do povo civil, de fato, graças a esses contingentes 

Que salvaram nossas gentes ilhadas sem água ou pão

E esse enorme batalhão deu o comer ao faminto,

Água ao sedento e eu sinto ser essa a amiga mão.

 

Me agacho, apoio um joelho e de mãos postas, com apreço,

Ao povo heroico agradeço, sobre o meu lenço vermelho

Ajoelhado, ergo o relho, pela heroica vitória

Que ficará na memória do povo que agradecido

Lembrará do fato tido como um momento de glória.

 

Agradeço ajoelhado, para mostrar que ninguém

É maior do que alguém com virtude ou pecado.

Reitero o muito obrigado com toda a minha humildade

Pela solidariedade perante a tragédia humana

Que a tempestade tirana fez, sem pena ou piedade.

 

Sim, amados irmãos, vocês nos deram demais

Amparos nas principais causas, com alimentações,

Água, remédios e ações de buscas e de traslados. 

Foi muito, mas derrotados, precisamos mais ainda 

E qualquer coisa é bem-vinda para os mais necessitados. 

 

Ora na reconstrução, precisamos de ajudas,

Desde coisinhas miúdas a equipamentos que são 

Necessários nas ação difíceis ao bom termo 

Em lugar que ficou ermo sem um único habitante.

Sei que nos deram bastante, por verem o Estado enfermo.

 

Com um governo sem dinheiro pelo excesso já gasto,

Ao entendimento vasto de qualquer um brasileiro, 

O gaúcho fez-se herdeiro da falência do Estado 

Brasileiro já prostrado pelo seu erário escasso 

E nós nesse descompasso, não fiaremos a coitado.

 

Mas fiaremos, então, a quem de boa vontade 

À solidariedade para a reconstrução

Da pequenina nação gaúcha, ora precisando

De um empurrão, desde quando se fez a enchente insana 

E feroz, tão desumana quais vis abutres em bando.

 

Meu Deus, nós perdemos tudo. Perdemos até o lar 

Que para recuperar é difícil, não me iludo, 

Mas fé em Deus, sobretudo, mesmo com força abalada, 

É o fino fio da espada cortando o nórdico nó,

Na hora, tornado em pó e fazendo a tragédia em nada.

 

Então, nós humildemente, imploramos seu apoio!

Separando trigo e joio, sem o Estado que se sente 

Estar um tanto impotente, cremos na força civil 

Do nosso amado Brasil, para vencer tal batalha. 

O gaúcho nunca falha por não ser do seu perfil.

 

Se a vida é uma hospedaria, segundo Mário Quintana,

Em que a loucura humana nunca deixa a conta em dia 

Ao partir, sugeriria aplacarmos essa chaga

Ao deixar a conta paga para a geração futura 

Com amor e com ternura como quem seu filho afaga. 


domingo, 12 de maio de 2024

Às Mães

 

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MÃE

Autor: Laerte Tavares

 

Dia das mães, eu sei que é todo dia,

Porém para homenageá-la há um dia a ela

Como há o dia santo em liturgia,

Também ao Dia das Mães, o amor chancela.

 

Por isso neste dia, minha poesia

É uma homenagem às mães que se revela

Como uma celebração, a mais singela

Prece de amor feito à Ave-Maria..

 

Que essa homenagem tão subjetiva

Interpretada seja como altiva

Admiração às mães, com meu respeito.

 

Possivelmente entendam minha alma cativa

Ao meu amor filial à mãe não viva

Que vive em mim liberta no meu peito.