Programação: 270° ano da
presença açoriana em SC
“As Velhas”
da Ilha Terceira - Açores
Cantar “As
Velhas”
Segundo dados colhidos, cantar As Velhas é uma poética de exclusividade da Ilha Terceira, dos Açores. Conceito que se assemelha às cantigas trovadorescas de escárnio e maldizer, com base no improviso de dois cantadores, ao som musical de uma viola. Entre instrumentos de evidências estão a viola da terra com doze cordas e a viola da Terceira de dezoito cordas, denominadas violas de arame. Embora, diferentemente do canto ao desafio, alguns estudiosos defendem que nas velhas há uma situação risível, na qual o cantador tem por objetivo apresentar uma resposta ou réplica, mais original e melhor do que aquela feita pelo seu oponente, mas sem o desafiar.
O fenômeno da insularidade deixou marcas no espírito dos açorianos. Cinco séculos de isolamento físico e de contato permanente com o mar de horizonte finito, passando por cataclismos vulcânicos o povo caldeou uma religiosidade gerada, precisamente, ao terror do abalo sísmico e vulcões, fatores que marcaram e moldaram o modo de ser, de pensar e de agir do açoriano português.
Quanto à origem da cantiga As Velhas, pouco da sua história se sabe. É indiscutível de que foi levada pelos primeiros povoadores, enquanto a influência pode ter sido brasileira, africana e também americana. Canção essa, em afinidade com as cantigas de escárnio e maldizer e com a poesia trovadoresca da Idade Média. Outra possível influência seria com a Cantiga Chacota, canção de “fazer rir, verdades e fantasias”, um dos gêneros musicais utilizados por Gil Vicente para “criticar, troçar de tudo e de todos, mas a todos divertindo”.
As Velhas possuem uma estrutura poética constituída por uma sextilha e uma quadra. Nas trovas não se faz crítica usando os nomes próprios dos visados. A denominação, quase sempre se volta à “velha ou ao velho, meu avô ou minha avó”, figura familiar a representar o adversário de um dos integrantes, mesmo que com o tempo o tema das cantigas tenha partido para a revelação de uma crítica social a ser denunciada.
Eis abaixo algumas letras de autoria de Laerte Tavares, a expressar personagens locais da Ilha catarinense, as quais foram compostas a partir de ideias que surgiram num encontro com amigos da Casa dos Açores de Santa Catarina:
Velha lá da Joaquina,
Quando jovem era divina,
Tendo a bunda tatuada
Com uma pomba singela
E grande águia atrás dela
Tentando uma rapinada.
Hoje, essa velha é um caco,
Virou sombra, pele e osso,
A pomba foi pro buraco
E a águia enfiou o pescoço.
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Velho devoto e aflito
Lá da Enseada de Brito,
Pediu um milagre ao santo.
Queria uma companheira
Rica, bonita e faceira,
Para viver no seu canto.
O triste ganhou no, entanto,
Uma encrenqueira vizinha.
Pensou ser obra do santo,
Mas foi praga do Peninha.
********
Velha da Beira-Mar Norte
Tinha jurado de morte
A amante do marido
Que era uma inflável boneca
Imunda, feia e careca
Trajada em velho vestido.
Quando a velha dá um tiro
A boneca se desfaz
Em prolongado suspiro.
- Matei ele! É satanás!...
********
Velha da Praia do Meio
Dizia ter só um seio
Que era do lado direito.
Um velho que a tinha em mira
Apostou que era mentira
Que tivesse tal defeito.
Depois do tratado feito,
A velha deu seu recado:
- Eu tenho à direita um peito,
E o esquerdo, do outro lado.
********
Velha lá de Itaguaçu
Parecia um baiacu,
Tamanha a pança que tinha.
Dizem que na juventude
Ela esbanjava saúde
De tão elegante e magrinha.
Contou-me um velho tarado
Que ainda transa com ela,
Mas trai a velha ao seu lado,
Só pensa nela em donzela.
********
Uma velha lá de Ganchos
Tinha as pernas de garranchos
Iguais a ramos de junco.
Além da coluna torta
E olhar vidrado, de morta,
O seu nariz era adunco.
No parto, quem atendeu
Foi velha Maria Moura
Que vendo o semblante seu,
Pôs à mãozinha uma vassoura.
********
Velho que casou de novo
Convidou todo o seu povo
À festa de casamento.
Em meio, tomou um Viagra,
Pegou a noivinha magra
E subiu ao aposento.
Quando o defunto cresceu,
A noiva o puxa, excitada.
- Espera! O “pileco” meu!
Eu vou mostrar da escada.
********
Velha da Ponta de Baixo
Tinha um garoto por “cacho”,
Rapaz bonito e atrevido.
Um dia pegaram os dois
Num matagal e, depois,
Ouviram triste gemido
Acharam o rapaz pelado
Com a velha rapariga
Que dava um gemido uivado
Com o rabo num pé de urtiga.
********
Velha lá de São Miguel
Tinha um nefasto papel,
O papel de cafetina.
Anunciava ao povo
Ter sempre um brotinho novo
Sensual - linda menina.
Ela engendrava o programa
Com um moço, à bela donzela.
Mas fazendo um melodrama
Quem vinha nua, era ela.
Obrigada por dar a conhecer!
ResponderExcluirbj
Olá Silo: que bom chegar aqui e ver uma homenagem aos Açores, mais propriamente às Velhas da ilha Terceira. Sou da ilha de S. Miguel, a maior ilha do arquipélago dos Açores.
ResponderExcluirMuito obrigada pelo simpático comentário. Também vou ficar aqui a segui-lo.
bjn
márcia
Boa noite amigo Silo!
ResponderExcluirTenho imenso prazer em receber o seu comentário e saber que gostastes dos meus escritos.
Nao sou um escritor por formação, sim por vocação, o que me deixe muito feliz em saber que agradei-te com a minha simplicidade.
Espero poder ver-te sempre por aqui, onde de certo és muito bem vindo! Um forte abraço e um desejo de muitas e boas inspiraçoes!
Boa noite Laerte,
ResponderExcluirGostei de conhecer essa estrutura poética.
'As velhas' são cantigas muito divertidas
e suas composições ficaram muito legais!
Bjs ;)
Já hoje comentei noutro blogue que quero visitar logo que seja possível.
ResponderExcluirAquele abraço, boa semana
Caro Silo, un bel post davvero.
ResponderExcluirCiao e buona giornata con un forte abbraccio.
Tomaso
Danke,
ResponderExcluirich habe was dazu gelernt!!!
LG
Karina
Não conhecias estas canções. Também não conheço os Açores a não ser virtualmente.
ResponderExcluirAbraço
https://poemasdaminhalma.blogspot.pt/
ResponderExcluirOlá Laerte!
Adorei o poema, mas também a velha história, da Ilha de S. Miguel, e da velha atrevida.
Obrigada por ter vindo.
Abraço amigo.
Luisa Fernandes
Que bela apresentação desta tradição e historia da Velha, que adorei ler e rir muito. Já tinha lindo alguma coisa parecida e não sabia desta historia amigo. Foi ótimo vir e aprender um pouco mais e assim lhe fico grato amigo por mais esta. Neste recontar histórias você tem feito um belo trabalho.Vou ler mais e e brincar com esta estrutura de poesia.
ResponderExcluirMeu terno abraço e boa semana de paz e luz.
Muito bem. Uma publicação riquíssima :))
ResponderExcluirHoje:- {Poetizando e Encantando} Se chegares, amar-me-ás eternamente.
Bjos
Votos de uma Óptima Terça-Feira.
São brincadeiras terceirenses que fazem lembrar as farsas de Gil Vicente, o pai o teatro ibérico.
ResponderExcluirEstão muito diferentes: menos brejeiras e de um burlesco mais inteligente... semelhante às suas.
Há muito tempo que não vou à Terceira... Saudades...
Abraço, Amigo.
~~~
brillante informacion sobre todo el acto Silo Lirico donde nos podemos hacer una idea detallada del mismo con tus poemas llenando el mes de abril de rimas bellas y de gan emocion , recibe mis saludos . jr.
ResponderExcluirSó resta agradecer a partilha por informar detalhes tão interessantes sobre essas brincadeiras. Excelente apresentação apresentação. Gostei do atrevimento da velha.
ResponderExcluirAbraço!
Que bela homenagem amigo Laerte!
ResponderExcluirBoa semana!
Joana
A velha da Joaquina era muito avançada, para ter o rabo tatuado. Muito bom.
ResponderExcluirObrigada pela partilha, não conheço os Açores e é sempre bom ficar esclarecida sobre alguns aspetos.
ResponderExcluirBoa quarta.
Laerte, que bela homenagem! as cantigas de escarnio e maldizer eram uma maravilha na epoca. De um jeito bem engraçado falavam mal de tudo com uma pontinha de humor e assim, os ofendidos até achavam piada.
ResponderExcluirBeijos
Boa noite Laerte,
ResponderExcluirUma postagem rica em detalhes, uma bonita história!
Boa semana!
Abraço!
É uma espécie de cantiga ao desafio. Gosto imenso de ouvir os cantares dos entendidos na matéria ;)
ResponderExcluirtext is interesting but poetry about woman is so cheap
ResponderExcluirpeople always stay same the way they are ugly or beautiful
everything has our own eyes
this is truly about how we look at ourselves and others
Excelente homenagem
ResponderExcluirUm abraço
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
La insularidad suele ser un buen elemento para que ciertas costumbres heredadas de otros lugares se perpetúen o las hagan singulares.
ResponderExcluirSaludos.
Olha a bela Terceira. :)
ResponderExcluirObrigado pelas boas informações que tanto apreciamos!
ResponderExcluirConvidamos a ler o capítulo X do nosso conto escrito a várias mãos "Voar Sem Asas".
https://contospartilhados.blogspot.pt/2018/04/voar-sem-asas -capitulo-x.html
Saudações literárias
Bom fim-de-semana
Estas crónicas sobre os açorianos são muitíssimo interessantes. É um trabalho notável.
ResponderExcluirBom fim de semana, caro amigo.
Um abraço.
Lindos as suas cantigas! O amigo Laerte tem o dom de fazer rimas. Gosto muito. Parabéns!
ResponderExcluirEnriquecedora a sua aula sobre as "Velhas" dos Açores. Percebi agora o porquê dessas canções. Grata.
Beijos.
Interessantíssimo apontamento cultural que dá conta e elucida sobre uma tradição ancestral, e, ao mesmo tempo, a mantém viva na memória de todo um povo caldeado pela adversidade da natureza.
ResponderExcluirAbraço.
Gosto de ler esta información da regueifa azoriana, que non conhecía. As Azores é outro lugar que me chama. Lerei con mais calma tudo esto que escrive porque acho que é interesante e tem moito a ver ca nosa cultura galega, que ao fin, foi a mesma que a portuguesa. Abraço
ResponderExcluirGostei de ler :)
ResponderExcluirComo voçe, bem dí, tenhen mais a ver cas cantigas de escarnio e maldizer que coa regueifa que eu pensaba nun principio. Tenhen humor e ao tempo burla. Ja vi que tem varios livros da sua autoría. Moitos parabéms!!!!
ResponderExcluirVoltei e reparei que não me congratulei com esta efeméride tão interessante e notável.
ResponderExcluirGrata por a ter divulgado.
Para si e família, um Maio muito agradável.
Abraço, Amigo.
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