OBRA DE RODRIGO DE HARO PARA O LIVRO "CANOAS VENTOS E MARES" DE LAERTE TAVARES
Na Ilha de Santa Catarina o antigo ilhéu
nativo, de origem portuguesa, é de característica notável por seu desprendimento
material, perfil bonachão, modos simples e um linguajar peculiar que o distingue, ao falar com entonação rápida e entrecortada num sotaque de origem açoriana e arcaico. Além disso, ele mantém ainda, o secular espírito do pescador artesanal, emérito gozador e otimista. Até pouco
tempo, letrados julgavam-no simplório, porém hoje, o Manezinho (figura cada vez
mais rara), como é chamado carinhosamente, é indivíduo proeminente e venerado
pelos demais habitantes. Assim, todo mundo que chega a terra, quer ser um “Manezinho da Ilha”.
A Prefeitura local estabeleceu um dia do ano
comemorativo a essa figura especial, sendo o dia consagrado a ele, o
primeiro sábado do mês de junho. Isso, para não
esquecermos tal “espécime” que jamais poderá ser extinta ou esquecida. Cabe a nós o dever de preservar a notoriedade do Manezinho, meio às diversas etnias cá estabelecidas.
Junto ao ilhéu, vive também o gaúcho rio-grandense, do sul. Outra figura folclórica, caracterizada por “macho de faca na bota”, feito
à imagem do valentão destemido... Consta que um deles, certa vez, quis gozar de
um Mané e o “pau pegou”. Em homenagem ao Dia do Manezinho, apresento alguns versos
referentes a essa façanha.
CANTIGA AO DESAFIO ENTRE MANEZINHO E GAÚCHO
Eu sô Mané i nô nego.
Mas não sô burro nem cego
Como tu pensa, istepô!
Não intisica, qu’eu brigo!
Sô amigo dus amigo.
Não caçoe, pur favô!
Pos tu, a modi qui qué
Fazê qui eu sô zé mané...
E mi dexa incanzinado
Pra briga, seu disgramado!
Mas cuaal, tchê?
Você não vê
Que amo o sotaque teu?
Sou gaúcho de respeito!
Eu ademiro o teu jeito
De não falar como eu.
Até já sou manezinho,
Bebo o café com o vizinho
Em lugar do chimarrão
E ando até de pé no chão.
Intão: enche teu pandulho
Di tainha cum dibulho
I a inhapa di cachaça...
I vê si não mi arrenega,
Si não ti dou uma esfrega
Pra ti mostrá minha raça!
Não mi vem cum arremedo.
Di macho, não tenhu medo!
I não mi encazini más,
Qui já tô di pé atrás.
Mas bah, eu ti-ve o a-zar
De assim eu pro-nun-ci-ar
Teu so-ta-que especiall...
Que-ro que sa-i-bas amigo,
Qui me dou tão bem con-ti-go,
Qui, sem querer, fa-lo iguaal.
Eu a-de-miro o teu je-i-to
Por ser um amigo do pe-i-to.
Ti guardo no coração
Como se foste um irmão.
A modi qui, intão, gaúcho,
Adiscurpa! Eu disimbucho
Quandu mi tiram du sério.
I sou um lobo do mar,
Possu insinar-ti a pescar
Como pretendis, gaudério!
Disarrisca o qui ti disse:
Eu fui tanso, foi tolice
Di um Mané arreliado.
Adiscurpa, i obrigado!
Eu que agradeço, meu rei,
Por me desculpar. Nem sei
Te agradecer, guasca macho!
Tu me deixastes sem graça.
Sem tu, de amigo na praça
Fico com cara de tacho.
Porém, agora eu já sei
Que sou amigo do rei
Desta fabulosa ilha
Que tanto me maravilha!
Gosto de te ver na venda,
Deixo em casa minha prenda
E venho beber contigo.
Tu és um amigo que eu gosto.
Não duvido, mas aposto,
Que concordas com que eu digo.
Vamos beber mais um trago
E esquecer de tudo, agora.
Deixa que a cachaça eu pago...
Saúde por vida afora!
Caro Silo sono passato per un caro saluto con un abbraccio.
ResponderExcluirCiao e buona serata con un forte abbraccio e un sorriso:-)
Tomaso
Boa noite. Uma publicação cheia de brilhantismo. Adorei :))
ResponderExcluirHoje, do Gil, que por motivos profissionais não pode visitar os blogues amigos:
Coração em labaredas vulcânicas.
Bjos
Votos de uma boa Terça-Feira
Obrigada por me dar a conhecer!
ResponderExcluirNão conhecia essas figuras da vossa tradição. Gostei dos versos.
ResponderExcluirUm abraço
Mais uma das muitas figuras portuguesas que existem nesse Brasil imenso.
ResponderExcluirMuito engraçados, os versos.
Um abraço
Gostei desses versos, sô!!
ResponderExcluirAquele abraço!
Alegres y divertidos versos.....un gusto leerte.....saludos
ResponderExcluirAinda há dificuldade em entender os micaelenses do campo, mas os do mar... ''Credo! Deus nosso senhor nos acuda!''
ResponderExcluirPorém, 38 anos de TV ajudaram muito a corrigir o sotaque.
Então, ficou no DNA o gosto pelas cantigas ao desafio!
Está muito bem engendrada e hilariante.
Tudo de bom para si e família.
Abraço, Amigo
~~~~
Si Laerte, lo que valen son esos tragos dulces que aunque nos de vueltas la cabeza, se nos alegra el corazón y brinca contento.
ResponderExcluirMe han gustado un montón eso versos. Gracias por compartir esa gran sabiduría poética.
Te dejo un beso, mi gratitud y mi admiración.
Se muy, muy feliz.
Laerte, que homenagem linda!
ResponderExcluirOs versos, engraçadíssimos, da Cantiga ao Desafio são soberbos!
Gostei muito!
"Saúde por vida afora!", meu amigo.
Abraço.
Confesso que não conhecia essa cantiga, mas foi interessante ler os seus versos!
ResponderExcluirr: Muito, muito obrigada pelas suas palavras
Que interessante Laerte, cultura fabulosa de se conhecer, parabéns!
ResponderExcluirAdoro ouvir esse sotaque , essa forma simples e bela de falar
ResponderExcluirPor isso , os versos foram música !!
Beijinho !
Muito bem! Admiro muito a sua capacidade de fazer tão belos versos. Parabéns!
ResponderExcluirAbraços, amigo!
ResponderExcluirCaro Laerte,
os seus textos são sempre uma bênção para as figuras características que relembra com carinho e que merecem que sejam respeitadas!
então fui visitar o povo dos Açores e apercebo-me que a
tradição das Desgarradas / desafio está muito valorizada !
aqui vai um exemplar de homens e mulheres a cantar ao desafio:
https://www.youtube.com/watch?v=8SKAYhEB2Q8
gostei dos seus versos muito engraçados !
deixo um abraço
Angela
https://poesiesenportugais.blogspot.com/
Olá querido amigo Laerte! Gostei muito deste verso, seus versos sempre muito especiais e de uma riqueza em conhecimento. Passar por aqui é um grande prazer, te desejo a cada dia mais sucesso beijos de sua amiga Elaine.
ResponderExcluirQue assim se abracem todas as tradições e culturas: em paz e respeito, pois ninguém é igual a ninguém, nem melhor, nem pior...e Deus a todos nos colocou aqui, no mesmo caldeirão, para sermos os variados ingredientes de uma gostosa sopa em que o sabor de nenhum prevaleça sobre o outro mas, harmoniosamente, façam um típico e bem temperado prato brasileiro.
ResponderExcluirUm abraço!
Que ótimo, Laerte!
ResponderExcluirA consideração pelas diferenças e o convívio pacífico é indispensável entre todos.
Beijos!
Blog: *** Caos ***
Estes cantares ao desafio eram e ainda são tradicionais aqui na minha região, mas na actualidade com muito menos expressão que até algumas décadas atrás. De qualquer modo sempre fui apreciador e no caso admiro a capacidade do estimado Laerte para fazer o desafiante diálogo, a solo, ainda para mais com sotaque e numa base de convival amizade entre diferentes _ que quem dera, ntes último caso, também assim fosse de entre culturas e civilizações! Digo eu que será necessária uma grande capacidade poético-criativa, de conhecimento linguístico e de consciência moral.
ResponderExcluirParabéns, com votos de muito boa semana
Abraço
VB
Muy interesante y bonitos versos. Besos y buena semana.
ResponderExcluirSaúde por vida afora também eu lhe desejo, Silo! Muito prazer em conhecê-lo e ao seu blog. Cumprimento-o pelos lindos versos que constrói com tanta perspicácia. Tudo de bom e obrigada porme seguir e comentar!
ResponderExcluirUm gracioso diálogo poético! Eu não conhecia o manezinho da ilha, nem o seu interessante linguajar.
ResponderExcluirMuito bem, Laerte!
Bejinhos.
Olá, Laerte, muito boa, excelente criatividade em torno do 'Manezinho da ilha'. Na verdade, passei a gostar e ver com muito carinho, e que chegou aqui mais tarde, esse apelido para os que moram na Ilha.
ResponderExcluirMas minha enorme simpatia começou com o nosso maior tenista brasileiro conhecido por esse mundo afora, o grande Guga! Meu pai, irmão e filho são seus maiores fãs - com exceção do pai já falecido. E nós aqui em casa também. Ele mesmo se chamava de manezinho da ilha. Uma graça!! O tênis ficou sem graça, após o mané Guga.
Teu poema ficou extraordinário, 'O Manezinho e o Gaúcho' não poderia ser melhor!!Parabéns, amigo.
bjs
hello, i'm a new follower of your amazing blog, can you follow mine on my blog, too?
ResponderExcluirThanks
https://amoriemeraviglie.blogspot.com/
Adorei....Minha mulher é Catarinense e
ResponderExcluirTambém gostou de ler.
Uma boa semana e obrigado pela visita
Abraço
Muy buenos versos con el lirismo que te caracteriza, para dejarnos ver el talante de dos personajes catarinos típicos, en uno el manso y el otro el peleador gaucho. Qué bien los categorizas, pero mejor el desarrollo del poema, donde los enfrentas, miden fuerzas, y al final le apuestan más a la vida que a la muerte:
ResponderExcluirDeja que la cachaça pague ...
¡Salud por toda la vida!
Un abrazo. Carlos
Bem curioso esse Manezinho. Excelente dialogo.
ResponderExcluirAbraço e bom fim de semana!
Amigo Laerte, esse Dia dedicado ao Manezinho da Ilha não poderia ter maior merecimento, pois ele representa uma parte importante da cultura do litoral catarinense, em especial Florianópolis, da qual tu és profundo conhecedor. O texto está muito bom como introdução ao teu poema que junta as duas figuras do Manezinho da Ilha e do Gaúcho. A poesia feita com humor, ligando essas duas culturas dos dois Estados vizinhos, fez-me lembrar do grande poeta gaúcho Jayme Caetano Braun, talento incontestável de quem tu és admirador.
ResponderExcluirEstá excelente essa tua edição poética.
Parabéns, meu amigo!
Um ótimo domingo e um abraço aqui dos Pampas, do teu amigo.
Pedro
Notável capacidade de síntese, neste seu belo poema. Gostei também da forma como harmoniza e conduz a mensagem ao longo do fluir da escrita.
ResponderExcluirUm abraço
Que maravilha de desafio, que diversidade tem nossa língua..
ResponderExcluirAbraços.
Olá senhor Laerte. Agradeço primeiramente, a sua visita no meu blog. É muito bom ver e conhecer a cultura brasileira. Quanta variedade temos em nosso país. Confesso que ignoro muito, principalmente sobre o nosso Sul. Permita uma pergunta, pois não pude deixar de fazer uma ligação. Sobre o Manezinho, é daí que temos a expressão "se fazer de Mané"? Ou nada tem a ver? Até mais.
ResponderExcluirOlá, Laerte!
ResponderExcluirQue prazer receber sua visita em meu blog, obrigada!
Gostei da prosa entre Manezinho e Gaúcho. Interessantíssima a nossa diversidade cultural, somos mesmo uma "riqueza" em termos de diversidade...aqui no sudeste já ouvi a expressão "Zé Mané" quando fazem referência a uma pessoa "boba". Será que tem alguma ligação?
Então...já estou seguindo seu blog para ler outros textos.
Um abraço aqui de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro.
https://poemasdaminhalma.blogspot.com/
ResponderExcluirOlá, caro Laerte!
Bons olhos o vejam, espero que tenha poetizado muito!
Esperei por ti e não nego
de tanta saudade cego
havias de ser Gaúcho,
Para trazer aí no bucho
tanto trago e prosa
fazendo assim famosa
a bela canção do Mané...
Amigo Laerte, adorei a cantiga do Manézinho e Gaúcho.
É interessante poetizar novas culturas de outros países, especialmente do nosso país irmão.
Gostei, belíssima poesia Laerte!
Um abraço amigo.
Luisa
Muito bom Laerte. Um abraço.
ResponderExcluirhttps://poemasdaminhalma.blogspot.com/
ResponderExcluirOi Laerte!
Obrigada por ter vindo, foi um prazer!
Um abraço e volte sempre.
Tenha uma ótima semana.
Luisa
Olá Laerte...gostei da forma escrita do poema ,mas não me parece que o linguajar seja de um Manezinho portugues. Abraço
ResponderExcluirQuando os dois lados do oceano, e o seu simbolismo, se materializam em personagens tão especiais... com todas as características... das suas origens...
ResponderExcluirMagnifico trabalho, Laerte! Um grande abraço!
Ana