O adulto é o menino que ele foi até aos
sete anos de idade. À época do Natal essa constatação me aflora à alma e inunda
o meu espírito da luz dessa verdade. Verdade transposta ao ser como uma
tempestade de sentimentos que oscilam em uma vibração senoidal de paz, culpa, regozijo festivo, luz do real,
sonho, saudade, solidão, comemorações fraternais e até certa angústia por não
poder restabelecer minha infantilidade. Isso porque me assedia um certo sentimento
de culpa em ter traído aquele antigo menino; ao deixá-lo abandonado ao tempo e eu,
percorrido sozinho, um caminho anacrônico ou atemporal que conduzia à
maturidade. Dá vontade de lançar a ele um salva-vidas atado a uma corda, para
resgatá-lo da imprecisão do que sonho; mas um raio de luz, na tal tempestade
cérebro-sentimental, me confunde e ele estiola no meu pensar a me levar ao
devaneio. Retorno à realidade com o sentimento do amor carente – aquele amor
que do espírito emana para amar e a razão do ser quer recebê-lo por carência
afetiva, própria do adulto – a eterna criança.
Mas, qual o mundo do menino que leva
este adulto à “brain storm” (chuva de ideias – tempestade cerebral)? Seria o
mundo do ritual natalino à época da sua infância, como, principalmente, o mundo
dos ternos de reis – tradição portuguesa; e o da confecção dos ninhos com barba
de velho e flores, onde o Bom Velhinho depositava os presentes de Natal às
crianças. E a tradição dos ninhos perdeu-se no tempo entre toda a gente –
ninguém mais usa esse rito que revive tanto em mim e me revive a alegria que o Natal
traz à alma. Minha esposa fez-me uma réplica ao nosso filho Arthur quando
criança, para um agrado a mim e uma lição aos dois meninos – filho e pai.
Posto foto do que seria um Ninho do
Natal – receptáculo dos presentes natalinos às crianças; e um pequeno poema
natalino.
Obs: em época de um Natal passado
postei matéria semelhante e mais explicativa – olhem!
NATAL
Eu sou a criança, aquela
Que fui quando era menino,
Tendo tangente o divino
Na alma augusta e singela.
Em minha mente, a procela
Cerebral,
tira-me o tino,
Porém, o antigo ensino
Do que é Natal se revela.
E assim eu sinto o Natal
Do infante sentimental,
Dentro
da alma, unicamente,
Como o mais transcendental
Fenômeno espiritual
Que diviniza alma e mente.
Confecção do ninho natalino com barba de velho e flores da época
Colocação do ninho em frente a lareira da casinha de praia,
à espera dos presentes de Natal